É tão triste morrer na minha idade!
E vou ver os meus olhos, penitentes
Vestidinhos de roxo, como crentes
Do soturno convento da Saudade!
E logo vou olhar (com que ansiedade! …)
As minhas mãos esguias, languescentes,
De brancos dedos, uns bebês doentes
Que hão-de morrer em plena mocidade!
E ser-se novo é ter-se o Paraíso,
É ter-se a estrada larga, ao sol, florida,
Aonde tudo é luz e graça e riso!
E os meus vinte e três anos … (Sou tão nova!)
Dizem baixinho a rir: “Que linda a vida! …”
Responde a minha Dor: “Que linda a cova!”
Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)
Aos vinte e três anos Florbela já contemplava a morte como um destino certo.
Sabia que iria embora cedo, porém zombava.
“E ser-se novo é ter-se o Paraíso,
É ter-se a estrada larga, ao sol, florida,
Aonde tudo é luz e graça e riso!”
Sua juventude dizia: “que linda a vida”.
Sua Dor (sim, ela já as tinha) rebatia: “Que linda a cova”. Estava prevendo-a.
Morreu quando completou 36 anos dando cabo à vida depois de 2 tentativas frustradas. Estava muito doente e sofrida.
Nunca perdeu a capacidade de buscar seus versos no paraíso dos poetas mortos.