Maria Luiza chegou possessa, furibunda, prostituta da vida em casa. Suas melhores amigas, a Robertinha e a Renatinha, não podendo suportar o ardor da novidade contaram a ela que viram Carlos Alberto, o seu marido, saindo do motel Discretissimu’s às vinte e três horas com uma loira escultural, usando um tubinho preto que deixava saliente os seus fartos apetrechos superiores. Só ficaram frustradas porque não conseguiram ver o rosto daquela “zinha”, destruidora da paz familiar.
– Cachorro, safado, vigarista, traidor. Eu quero o divórcio, Carlos Alberto e estou saindo desta casa, imediatamente!
– O que foi??? Que aconteceu, mulher? Por que essa ira?
– Seu safado! Então você não sabe, né? Ou está se fingindo de lesado. Minhas grandes amigas, a Robertinha e a Renatinha me contaram hoje, no shopping, que viram você sair do motel, com uma loira com um vestido que mal cobria os seios dela, ontem à noite.
– Tá louca mulher? Esqueceu-se que era você que estava comigo ontem no motel?
– Discretissimu’s! Discretissimu’s! Eu sei que era eu, canalha, mas elas não sabem. Maldita hora em que aceitei ir a esse motel com você. E agora? O que elas vão dizer se souberem que eu aceito ir a um motel com meu marido! Era só o que faltava.
– Que doidera é essa Maria Luiza. Então só por causa de uma convenção feminina você vai jogar nosso casamento fora? Que mal há em suas amigas saberem que eu te levo ao motel?
– Não fale comigo, já disse! Deixa de ser cínico Carlos Alberto! Então você acha que vou deixar elas pensarem isso de mim? Vou pedir o divórcio, mas primeiro vou sair desta casa e ir para a casa da mamãe. Nunca eu vou passar por essa humilhação de deixar os outros saberem que eu vou ao motel com você?
– Bebeu, Maria Luiza? Fumou orégano estragado? Andou tomando chá de cogumelo nesse shopping?
– Olha, Carlos Alberto. Eu só não te jogo esse jarro na sua cara, porque foi um presente dado pela Lucinha e é cristal morávio, se não você ia me pagar.
Nisso subiu para o quarto e foi arrumar a mala. Fungando, socava para dentro de uma bolsa alguns vestidos, umas camisetas, calcinhas, soutiens, alguns sapatos. Tudo em uma balbúrdia sem pé e nem cabeça.
Ao descer a escada que dava para o piso superior encontrou o marido segurando o telefone no ar com uma cara de atoleimado, todo sério.
– Antes de você ir embora quero te dizer uma coisa. Acabei de receber um telefonema do Rui, meu amigo de infância e do Arnaldo. Eles me contaram, com muita relutância, que viram você sair do motel Discretissimu’s ontem à noite com um homem que eles não conseguiram identificar quem era.
– Era você, imbecil, esqueceu?
– Eu sei que era eu, mas como vou ficar diante dos meus amigos se eles souberem que levo minha mulher para o motel. Por isso, Maria Luiza, antes de te botar para fora de casa e mandar você ir procurar um advogado para tratar do divórcio, eu vou te dar uma surra.
E partiu para cima da esposa, já arregaçando as mangas da camisa.
Roque, estrapolou!!!! Simplesmente supimpa. Parece Luiz Fernando Veríssimo..
Bondade sua Maurício…. é só pabulagem de caeté que ainda não fez a coivara e nem pinchou rama de mandioca para cultivar por falta de Sardinha.
Roque, seu arretado caeté: já passei pra frente seu delicioso conto. Uma grande alegria neste dia de finados! Fantástico.
Um abraço,
Grato meu caro amigo aí dos Zistadus Zunidus…
Eu encaminhei pra uma amiga e ela botou num grupo. Sucesso total
Grato pela lembrança Maurício… mas como sempre digo…. cabeça de caeté vazia, é oficina para o anhangá fazer seus abusões.
IstoÉ : Complô de Roque Cunha , Violante Pimentel e José Ramos com estórias curtas , maquiam o comportamento dos serviços públicos.
Brincadeira , a estória é ótima ,e talvez com alguma imaginação e um toque aqui ,outro ali dá para ser bem usada num “divórcio do bem” !.
Roque Nunes,
Parabéns pela crônica machadiana.
No livro “Somente a Verdade”, vinte e um causos presenciados no escritório de advocacia do pai, o autor José Paulo Cavalcanti Filho, narra uma história sensacional de Sancho e Quixotes que somos, quase idêntica a essa: “Casamento é para Sempre”.
Mesmo amando o marido, Norma, a personagem feminina, o expulsa de casa para morrer na solidão, por causa de um tropeço daquele no motel que gerou uma criança.
A história e a narrativas são geniais.
Vale a pena ler.
Parabéns, grande cronista, pela belíssima história.
Parabéns pela excelente crônica, prezado Roque Nunes! Adorei!
Pelo visto, o motel Discretíssimu’s, de discreto não tinha nada. Os curiosos de plantão não perdiam tempo, prestando atenção aos casais que de lá saíam.
Os diálogos entre Maria Luiza e Carlos Alberto são hilários, como também o falso moralismo que levou o casal à separação…kkkkkkkkkk.
Um abraço!