Pasquale Cipro Neto
Nesta crônica aproveito a sugestão e as remessas interessantes que sempre me faz meu colega escritor, Adilson Castello Branco da Cunha, referentes à obra do professor Pasquale Cipro Neto, que considero um verdadeiro benemérito da língua portuguesa, face à divulgação que vem realizando.
Para nós escritores nada como estar sempre revendo os linguajares, pois, além de ditados, adágios e provérbios que são necessários, eles completam frases e pensamentos pitorescos.
Há ditados que geralmente ultrapassam gerações. São peças que costumamos repetir no cotidiano, desde a infância; embora, no geral, sejam ditas ou escritas com pequenas falhas de interpretação.
É sobre estas falhas que passamos a comentar, graças às aulas do professor, que nesta crônica faço homenagem.
Pasquale nasceu em Guaratinguetá, é formado pela Faculdade de Filosofia, de São Paulo e seu principal livro é: “Língua Portuguesa: Inculta e Bela”.
Com o advento da televisão o professor Pasquale, soube aproveitar as mídias, criando um interessantíssimo programa de entrevistas, com pessoas famosas do mundo artístico, pois entendeu que estas chamam mais a atenção.
O programa auxilia os tele ouvintes em suas dúvidas tornando sua imagem de professor conhecida e admirada. Uma dessas notáveis entrevistas foi com o saudoso cantor Belchior.Vejamos algumas de suas dicas.
Hoje é domingo, pé de cachimbo. E eu ficava imaginando como seria um “pé de cachimbo”. Mas o correto é: Hoje é domingo, pede cachimbo… Dia de se fumar um cachimbo. Lembro-me até de um versinho que declamávamos na infância, cujo autor não tenho ideia:
Hoje é domingo, pede cachimbo
Cachimbo é de ouro
Bate no touro
O touro é valente
Bate na gente
A gente é fraco
Cai no buraco.
O buraco é fundo
Acabou-se o mundo.
Pé-de-moleque. Determinada senhora fazia um bolo caramelizado, recheado de amendoins e punha pra esfriar na janela. A molecada vinha e roubava, então ela gritava: Não precisa roubar! Pede, moleque! …
E a gente imagina que repete corretamente os ditos populares. Mas, nem sempre! Exemplo: no popular se diz:
Esse menino não para quieto, parece que tem bicho carpinteiro. Minha grande dúvida na infância: Que bicho seria esse que é carpinteiro? Mas a frase correta é: Esse menino não para quieto, parece que tem bicho no corpo inteiro.
Batatinha quando nasce, esparrama pelo chão. Enquanto o correto é: Batatinha quando nasce, espalha a rama pelo chão. Se a batata é um caule subterrâneo; ou seja, nasce enterrada, como se esparramaria pelo chão se ela está embaixo dele?
Cor de burro quando foge. O correto é: Corro de burro quando foge, porque certamente é um petista enfurecido.
Quem tem boca vai a Roma. Bom, esse eu entendia; de um modo errado, mas entendia! Pensava que sabendo se comunicar a pessoa vai a qualquer lugar… Mas, correto é: Quem tem boca vaia Roma. Isso mesmo, do verbo vaiar. Mas por quala razão iremos vaiar Roma, não sei. Só os Mestres Antônio Porfírio ou Edson Mendes poderão me dizer.
Entra agora o cronista nessa história. Nas rodas da malandragem juvenil, já ouvi alguém alterar o ditado, que ficou mais pitoresco: “Quem tem boca vai e arruma!”
Quem não tem cão, caça com gato. Mais um famoso! Eu sempre entendia também, embora errado, mas entendia! Porém o certo é: Se não tem o cão para ajudar na caça, o gato ajuda! Porém, o correto é: Quem não tem cão, caça como gato; ou seja, sozinho.
Outro ditado que muitos dizem errado:
Cagado e cuspido – Nossa Senhora!… Quando alguém quer dizer que é muito parecido com outra pessoa ou produto, usa-se este ditado. Mas o correto mesmo é: Em Carrara esculpido. Carrara, como se sabe, é uma região da Itália onde se extrai um dos melhores tipos de mármore conhecidos.
Vai me dizer que não precisamos de uma dica do Professor Pasquale?