MARCELO BERTOLUCI - DANDO PITACOS

Uma das maiores causas da confusão dos tempos modernos é que as pessoas não sabem mais o que as palavras significam. Isso muitas vezes é intencional, porque muita gente se preocupa mais em ganhar as discussões do que resolver os problemas. As palavras relacionadas com a economia e a política estão entre as maiores vítimas. Ninguém parece se preocupar com as definições, e se interessa apenas em dividi-las em palavras “do bem” e “do mal”. Como exemplo, vamos tentar destrinchar uma das mais comuns, o tal do capitalismo.

Para um certo grupo, o capitalismo é uma coisa horrível, e a solução para ele é o socialismo. Para outro grupo, o socialismo é que é horrível e o capitalismo é que é a solução. Na verdade, essas duas palavras falam de coisas diferentes e uma não é o oposto da outra.

Partindo da simples formação da palavra, capitalismo é o sistema onde existe capital, o que inclui praticamente toda a humanidade. E o que é capital? É qualquer coisa que aumente a capacidade das pessoas de produzir bens ou riquezas, ou que produza esses bens e riquezas por si só. Vamos dar um exemplo metafórico: uma pessoa comprou, ganhou ou achou na rua uma galinha. Essa galinha constitui um capital, e o dono pode usá-la de três formas básicas:

1 – Ele mata a galinha, assa no forno e come. Ou seja, o capital foi consumido.

2 – Ele conserva a galinha viva e come os ovos. O capital é mantido apenas para sustentar o consumo; portanto, não aumenta.

3 – Ele deixa a galinha chocar os ovos. Nascem novas galinhas, e a produção de ovos aumenta. O capital é reinvestido, ou, em outras palavras, o capital aumenta a si mesmo (e matematicamente pode-se mostrar que este aumento é exponencial).

Interpretando no mundo real, algumas coisas se tornam óbvias:

– Não adianta ter muitas galinhas se não há ninguém para comprar os ovos. Ou seja, o capital se torna produtivo quando existe um mercado.

– Um grande criador de galinhas irá necessitar de ração, medicamentos, gaiolas, embalagem para os ovos, transporte, etc, e tudo isso representa uma oportunidade para outras pessoas. Ou seja, o capital também pode beneficiar outras pessoas além do seu dono.

– Um grande criador de galinhas provavelmente contratará funcionários. O funcionário não precisa de capital próprio, ele apenas vende partes de seu tempo na forma de trabalho.

Essa última questão gera uma grande polêmica. Segundo alguns, o regime capitalista seria injusto porque o dono do capital se aproveita do trabalho alheio (é o que Marx chamou de mais-valia). Do ponto de vista do conceito básico, é isso mesmo, porque a ciência econômica não faz juízos de “certo” ou “errado”, ela apenas explica como as coisas funcionam e quais as consequências de cada ato.

O empregado, enquanto empregado, não é um capitalista, e portanto não vai usufruir das vantagens que o capitalismo traz. Mas uma pessoa não é apenas um empregado – essa é apenas uma parte de sua vida. Nada impede que o empregado poupe e transforme uma parte do salário que recebe em capital. De que forma? Muitas: pode comprar ferramentas e máquinas e passar a trabalhar como autônomo, pode abrir um pequeno negócio, pode comprar um imóvel, pode simplesmente aplicar o dinheiro em um fundo de investimentos ou na poupança. De qualquer forma, uma vez iniciado o processo, o capital pode aumentar a si mesmo, se usado da forma correta.

Quem reclama, normalmente se queixa de que o conceito não se aplica na prática: o empregado ganha muito pouco, seu salário mal dá para viver, ele jamais conseguirá reunir capital. Eles propõem uma quarta opção para o dono da galinha:

4 – Ele conserva a galinha viva, e entrega uma parte dos ovos para um grupo de pessoas muito bem-intencionadas chamadas “políticos”. Essas pessoas supostamente irão usar esses ovos para promover “igualdade” e “justiça social” (mas na prática geralmente elas mesmas ficam com a maioria dos ovos).

Então, para resumir a coisa: o capitalismo nunca se propôs a enriquecer quem não têm capital, mas ao mesmo tempo não impede ninguém de conseguir. O que caracteriza as sociedades mais ricas não é a existência de alguns com muito capital, mas a existência de muitos com capital. Isso acontece porque em algumas sociedades a maioria se dedica a reunir capital e a fazê-lo crescer, enquanto outras se dedicam a tirar o capital de quem têm para dá-lo a quem não têm. O capital não aumenta quando é movido de um lugar para outro; aumenta quando é deixado livre para produzir.

Para encerrar, uma frase do economista Howard Kershner: “Quando um povo dá ao seu governo o poder de tirar de uns e dar a outros, o governo irá crescer continuamente até que a última gota de sangue do último pagador de impostos seja sugada.”

2 pensou em “DEFININDO O CAPITALISMO

  1. Aqui Bertoluci mostra como o Socialismo é cruel. Tira de quem gera produção para, no fim das contas, colocar no próprio bolso. Assim, de certa forma, todos os políticos são socialistas, pois tiram arbitrariamente de quem trabalha e também, através da corrupção,grandes quantias . . .do suor de quem trabalha.

  2. Fui procurar no Google a definição de capitalismo e obtive definições que basicamente se resumem a:

    “O capitalismo é um sistema econômico que está baseado na propriedade privada dos meios de produção e tem como principais objetivos o lucro e a acumulação de riquezas.” Definição com a profundidade de um pires.

    Como começou o capitalismo moderno? Na idade média, nos burgos em torno dos feudo eram compostos por artesões, comerciantes e pequenos produtores que forneciam produtos aos feudos. Com o tempo passaram a negociar excedentes com outros feudos e a acumular bens, ou as tais riquezas, chegando por fim a derrubar os feudos.

    Indivíduos são diferentes e isso não é um conceito, é fato. Vão produzir, cara um conforme sua competência e sua capacidade. Logo, alguns irão mais longe que outros. Desde a idade média o capitalismo evoluiu, pessoas descobriram que quanto mais gente na sociedade consumindo, maior a evolução de suas empresas e mais sólidas elas ficam.

    Também existe a concorrência, o que faz que os meios de produção modernizem e preços caiam, proporcionando que mais pessoas evoluam.

    Nunca a sociedade humana evoluiu intelectualmente, socialmente e moralmente tanto quanto nos últimos 200 anos. A evolução do capitalismo é cricial nesta fase da evolução humana.

    Quanto ao Socialismo, este foi inventado por gente que nada produz, para se apropriar daqueles que produzem, não deixar que a sociedade evolua, deixando todos dependentes do estado protetor.

    E o Estado, onde entra nisso? Vai sempre existir, tanto no capitalismo, quanto no socialismo, a diferença é o tamanho e sua eficiência.

    Até hoje a humanidade não criou um sistema sem a presença do Estado ou melhor que o capitalismo.

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