CARLITO LIMA - HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

Antonieta acordou-se com leve dor de cabeça e um amargo na boca, havia bebido na noite anterior. Ainda deitada desligou o ar condicionado. Veio-lhe a imagem, detalhes da tarde de amor, Luciano, terno, carinhoso, ao mesmo tempo selvagem, deixou-a em êxtase duas vezes, quase desmaia. Jamais pensou ficar apaixonada por um homem mais velho, poderia ser seu pai. Ela não tinha algum sentimento de culpa, pouco lhe importava aquela situação camuflada de namorar um homem mais velho e casado. Sem problema para ela, bem melhor que Elizeu, ex marido, Luciano usava a experiência, sabia trabalhar nos pontos sensíveis de uma mulher, devagar, sem pressa, ficava a explorar sua anatomia, enquanto Elizeu era um desastre na cama, apesar do belo corpo jovem. Ele bebia muito, cheirava; na hora do amor pensava apenas em satisfazer-se.

Antonieta aguentou apenas dois anos de casada, e não tinha saudade daquela época. Hoje, é uma mulher livre, faz o que quer, até um caso de amor com um homem maduro. Na véspera, depois da estonteante tarde de amor, Antonieta, satisfeita da vida, juntou-se a um grupo de amigos na balada noturna, dançou e bebeu até quase o dia amanhecer.

Ainda deitada saiu do devaneio ao olhar o relógio, 11:30 horas. Levantou-se, abriu a cortina de seu apartamento na praia de Jatiúca, alegrou-se ao contemplar o dia ensolarado, a luminosa manhã. O mar de um verde esmeralda com matizes azul turquesa, convidativo a um mergulho. Contemplando do alto da janela deu-lhe uma sensação de bem estar, amava sua cidade, sua praia, a vida bela.

Na sala encontrou os pais, a irmã mais nova.

– Tieta querida, a noitada foi boa, sua cara de ressaca não nega. – Entregou a irmã.

– Foi ótima, saí com as amigas, eu posso, sou adulta, independente, dona do meu nariz.

Conversavam enquanto Antonieta preparava um lanche na cozinha. O celular tocou, era Didi. Toda mulher bonita, gostosa, separada, tem um amigo homossexual. Didi não parece homo, não dá para notar sua opção sexual até ele abrir a boca. Tieta atendeu.

– Diga Didizinho querido! Como está vossa excelência?

– Estou à toa na vida, quero saber da programação nesse belo sábado, que tal nos encontramos numa barraca de praia, para um bom chope? Depois seja o que Deus quiser. Esse dia ensoralado é um convite para desmantelo.

– Fechado, a uma hora na Barraca Pedra Virada, tem sempre amigos curtindo uma cervejinha.

A mãe ouvindo a conversa, não perdeu oportunidade para um conselho e um puxão de orelha.

– Tieta, você já vai sair? Daqui a pouco fica falada, não arranja outro marido. Esse Didi parece, mas não é homem, cuidado com a vida. Quero que você se divirta, com juízo.

– Minha mãe essa vida é curta, ou eu me divirto ou tenho juízo; os dois são incompatíveis. – Deu uma gargalhada.

Antonieta deu partida no carro rumo ao encontro, tomou a Avenida Beira Mar. De repente, sinal vermelho, ela freou, ficou à espera, ao olhar de lado teve um susto. Seu amado Luciano entrava num restaurante de mãos dadas com a esposa. Deu-lhe uma sensação de mal estar, acabou-se a alegria, veio-lhe um profundo ciúme do fundo da alma. Precisou uma buzinada para acordá-la ao abrir sinal, acelerou o carro, mais adiante parou no acostamento, colocou a cabeça entre as mãos por cima do volante, chorou de raiva e pena de si mesma. Ao se recuperar retomou a Avenida Beira Mar.

Didi esperava sentado, camisa vermelha, bem penteado, moço bonito, elegante, copo de cerveja na mão, peixinho frito na outra, ao vê-la fez sinal. Antonieta achegou-se devagar, sentou-se, queria tomar um porre, contou ao amigo o encontro inesperado com o amado Luciano.

– Você diz não ter preconceito, aceita esse amor proibido. Faz análise, tem cabeça boa, não entendo esse choque, esse chilique ao ver Luciano e a esposa. –  Provocou-a Didi.

– De mãozinhas dadas com a esposa! De mãozinhas dadas não dá para aguentar!

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