DEU NO JORNAL

Leonardo Coutinho

Cuba, a nova ilha chinesa

O líder cubano Miguel Díaz-Canel postou em sua conta no X uma piada. Pelos menos ele quer que seja uma piada. Trata-se da imagem que ilustra esta coluna. Díaz-Canel publicou uma base de beisebol dizendo ser esta a “base chinesa” em Cuba. O autocrata chistoso quis menosprezar um relatório recente do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), sediado em Washington, D.C., que afirma que a China está por trás de uma série de instalações em construção ou já em operação em Cuba.

O relatório intitulado “Sinais Secretos: Decodificando as Atividades de Inteligência da China em Cuba”, afirma que os chineses estão usando a ilha caribenha como um posto avançado para suas atividades de espionagem no Ocidente. O documento é resultado da análise de várias imagens de satélites que mostram uma sequência de instalações de interceptação de comunicações.

A menos de 160 quilômetros ao sul da Flórida, Cuba é para os adversários dos Estados Unidos o melhor lugar do planeta. Não por acaso, o mundo esteve à beira de uma guerra nuclear quando, em 1962, a então União Soviética desencadeou uma crise com a instalação de mísseis na ilha. 

A descoberta de instalações com a capacidade de interceptar as comunicações em Cuba permite à China bisbilhotar uma sequência de informações estratégicas americanas, considerando que somente na Flórida há uma série de bases militares, sedes de comandos, centros de lançamentos de foguetes, grupamentos de forças e espaciais e áreas de testes militares.

O conjunto de imagens de satélite e análises do CSIS indicam que há pelo menos quatro locais ativos em Cuba capazes de realizar operações de vigilância eletrônica. Díaz-Canel faz piada, mas ele sabe muito bem o que está fazendo.

China e Rússia há tempos trabalham para gerar instabilidade no continente americano e até mesmo “exportar” conflitos tentando direcioná-los para a região. O tour recente de navios militares iranianos e russos são os eventos mais evidentes, porém não os únicos.

Putin armou a Venezuela de Hugo Chávez. Tentou fazer o mesmo no governo Dilma Rousseff. 

Xi Jinping também conquistou parte do mercado militar venezuelano, mas foi além. Muito além. Ergueu na Argentina uma base colossal. Sob o pretexto de estudar o espaço, fincou no deserto uma antena gigante que tem mil e uma capacidades. Entre as quais a de espionar.

A China nega. Diz que a instalação é de uso civil e que seu uso é exclusivamente científico. 

Construída no governo de Cristina Kirchner, sob um arranjo do então embaixador Yang Wanming, que fez fama no Brasil nos tempos de pandemia, a instalação é protegida ao ponto que nem os argentinos podem entrar para inspeções ou sequer fazer uma visitinha.

Díaz-Canel faz piada porque sabe que pode usar do mesmo artifício: negar, negar e negar. “São instalações civis”. “É ciência”. São tantas desculpas. Ele também sabe que há formas alternativas de guerra. E para isso não precisa sequer de um tanque.

Nos tempos de Pablo Escobar, por exemplo, Fidel Castro transformou a ilha de Cuba em um entreposto de cocaína. Ofereceu para ser depósito e ponto logístico para ajudar a droga vinda da Colômbia a chegar nos Estados Unidos. Era uma operação na qual ele ganhava duas vezes. Além do pedágio que cobrava pelo apoio, ele atacou a América por meio do tráfico. Receita que, vinte anos depois, ensinaria a Hugo Chávez. O venezuelano colocou as Forças Armadas de seu país para servir ao tráfico de drogas sob o pretexto moral de que “não era tráfico”, mas um instrumento de guerra assimétrica.

Não estava errado na teoria e prática que repassou para Chávez. O tráfico de drogas é sim um instrumento de guerra assimétrica e se transformou em um dos componentes das guerras híbridas. Apesar disso, cocaína segue sendo cocaína e tráfico segue sendo tráfico.

O uso do tráfico de drogas como política de Estado, ato de guerra e fonte de receitas ensina que Díaz-Canel sabe que não é preciso um quartel, soldados uniformizados, blindados armados e mísseis apontados ao Norte para configurar a presença e ação de seus novos patronos.

Ao ceder seu território como posto avançado para China, o regime cubano dá ao seus aliados chineses a oportunidade de colocar, de maneira ostensiva, seus olhos e ouvidos sobre os Estados Unidos – algo que era feito no varejo, com a infiltração de espiões, instalação de antenas piratas de celular e até o sobrevoo de balões. 

Da Patagônia ao Caribe, a espionagem chinesa é uma realidade cuja intensidade e implicações deveriam ser objeto de reflexão. Os governos locais querem interromper isso ou amplificar? Cuba já fez sua escolha.

2 pensou em “CUBA, A NOVA ILHA CHINESA

  1. Cuba foi totalmente destruída com o socialismo. Sua economia foi estrangulada por Fidel Castro. Foi um desastre para Cuba. Esta é uma verdade inconteste e NUA E CRUA. Outras ilhas, o litoral mexicano e outros paises do Caribe, se transformaram em paraísos turisticos recebendo milhares de visitantes e Cuba não. Portanto, por isso, Cuba precisa mendigar para sobreviver. E é o que vem acontecendo desde sempre. Rússia, Venezuela ajudaram e agora a China parece que vai ajudar Cuba a sobreviver. Lógico com imensos interesses e com um custo extremamente alto em todos os sentidos. E o pior é que Cuba, com ajuda de países “estranhos”, para não falar de outra forma, batem de frente com os EUA desde 1959. Enquanto isto ocorrer, Cuba não terá salvação. Estes países, sempre irão criar atritos internacionais e o paupérrimo povo cubano sofrerá tanto quanto já vem sofrendo há muitos anos, desde Fidel Castro.

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