Ainda hoje, quando o vento começa a lufar anunciando que vem chuva, tenho a sensação que o mundo está comunicando o seu fim. Morro de medo dos exageros da natureza. Astrofobia é o seu nome científico, hoje tratada com terapia cognitivo-comportamental. No tempo de minha vó Mariquinha isso não existia e a pobrezinha se pelava de medo quando começava esse tirenête no céu do Araripe. Cobria tudo que era espelho com os lençóis da casa. Só não digo que o medo da pobrezinha ia além do trimilique em respeito a ela, que hoje mora pertinho de Nosso Senhor, nas alturas celestiais. Meu avô, poeta tamanho ‘imenso’ e professor de latim e português dos futuros padres do seminário do Crato, ria da situação e tentava explicar: – Calma, Mariquinha, essa zoada são apenas as nuvens brincando de empurra-empurra entre elas. Não adiantava. Eu também não sou muito chegado a essa história de relampejo e trovoada. Acho que tem algo de hereditário nisso. Não chego a ‘molhar a fralda’ mas me agarro com Padim Ciço e tudo que é santo protetor ao primeiro pingo que cai. Aí lembro da oração que ela rezava ante a primeira ameaça de um chuvisco, uma neblina, pingos poucos que fossem: abria a janela e falava 3 vezes: “Santa Bárba, São Girome, tabaqueiro véi Zé Gome “. Às vezes dava certo e voltava tudo à calmaria. Outras vezes, Bárba, Gerome e esse tal de Zé Gome, que nem sei de quem se trata, deviam estar ocupados com outras tarefas, talvez até menos nobres, e o trovão zoava no ar matando o povo de medo. Chuva é bom, mas sem a companhia de trovões e relâmpagos seria melhor.
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Afinal, sabemos de onde vem a herança de poeta do grande Xico Bizerra. Do avô. Está explicado, pois. Viva Xico Bizerra!!!
DNA que me honra e orgulha, embora sabedor do muito que me falta para ao menos chegar perto do talento do meu avô. Obrigado ao bi-imortal dr Zé Paulo pelo tão generoso que é ao se referir a esse modesto escriba.
Xico, você me fez voltar a minha pré adolescência. Minha mãe mobilizava todos nós na hora de cobrir os espelhos. Quando o trovão começava a gente se escondia num quarto, no meu quarto, e ela santa bárbara e são Gerome, parece, ficavam na porta.
Xico,
Você me fez recordar mamãe com a sua coragem sertaneja. Quando as trovoadas começavam festejando no céu todos nós encolhíamos, inclusive papai que assistira a um amigo morrer queimado no raio mesmo lhe perto.
Papai tinha trauma dos relâmpagos justamente por ter lhe marcado esse episódio da natureza. Dizia sempre para a gente não se arriscar.
Fúrias da natureza, meus filhos, a gente nunca sabe como vem – dizia o velho na sua sabedoria do campo.
Obrigado, Assuero e Ciço, pela solidariedade no medo. Ainda hoje não me atraem raios e trovões e não nego ser medroso. Abraço a todos
Meu amigo, no meu caso durou pouco… quando chovia a meninada ia tomar banho de chuva e fazia uma fila na frente da igreja. O primeiro segurava o para-raios e os outros faziam a corrente…era uma tremedeira engraçada. Aí veio Ciências na escola e eu perdi o medo. Ficou apenas a lembrança de minha dizendo “o trovão são os anjinhos arrumando as mesas”
Assuero amigo, louvo sua coragem infantil mas … tô fora. Esse negócio de brincar com eletricidade me mete um medo danado, ainda hoje. Prefiro ficar de longe só ouvindo os ‘anjinhos arrumando as mesas’ e as nuvens brincando de ‘empurra-empurra’ … Abraço