FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

O notável psicanalista Carl Gustav Jung escreveu: “As crises, os transtornos, as doenças, não surgem por acaso. Eles nos servem como guias para retificar uma trajetória, explorar novas orientações, experimentar um outro caminho da vida.”

Complementando a reflexão acima, uma opinião emitida por Raymond Boudon (1934-2013), em seu livro Crer e Saber: Pensar o Político, o Moral e o Religioso, São Paulo, Edições Unesp, 2017, 297 p.: “Nas democracias modernas, a sociologia exerce uma influência importante, porém ambígua, sobre o universo das ideias. Em sua dimensão científica, ela realizou um progresso admirável na explicação dos fenômenos políticos, morais e religiosos, mas esse progresso permanece pouco visível.”

Lamentavelmente, embasado nas duas reflexões acima, podemos concluir que alguns procedimentos sociais, morais, políticos, educacionais, militares religiosos e empresariais da pós-modernidade não estão balizados nos três verbos do título deste texto. Atualmente se crê cada vez menos numa evolução voltada para o além da Vida, sabe-se cada vez menos culturalmente, crescendo-se apenas tecnologicamente e sobrevivendo como manada, sem uma criticidade técnico-construtiva, empreendedora e evolucionária, radicalmente solidária. Três exemplos por mim testemunhados:

a. Certa noite, no segundo semestre do ano passado, fui com a minha inspiração jantar num restaurante de classe média numa capital nordestina. No salão, numa mesa à nossa frente estava uma família de seis pessoas, marido, mulher e quatro jovens, todos manuseando um celular, sem qualquer diálogo familiar, tal e qual robôs se comunicando com alguém fora do ambiente. Observei: passaram-se mais de quarenta minutos, todos teclando seus celulares até a chegada dos alimentos solicitados. Depois da alimentação, todos voltaram aos seus respectivos teclados, cada um isolado em seu mundinho eletrônico.

b. Numa época natalina, compareci, em 2022, a um educandário de ensino médio público misto, numa cidade da RMR, para proferir uma pequena palestra sobre o 25 de dezembro. Antes de começar, indaguei à turma quem era a figura mais importante da data. Dos 56 alunos presentes, apenas 8 (14,2%) responderam num papel que era o Menino Jesus. Menos de 15% da turma!! Mas o que mais me impressionou foi o percentual dos que possuíam celular: 48 alunos, mais de 85%. Muita eletrônica em mínima densidade cultural!

c. No grupo acima, uma grande maioria acreditava piamente em sexta-feira 13, mula-sem-cabeça, mau-olhado, perna cabeluda, azar e gato preto. E todos acreditavam que os amanhãs seriam melhores se houvesse muito dinheiro para todo mundo do planeta.

Voltei para a casa amedrontado com os amanhãs que nos esperam. Felizmente, recentemente, um livro me deixou plenamente satisfeito: DEUS, TECNOLOGIA E A VIDA CRISTÃ, Tony Reinke, São José dos Campos SP, Editora Fiel, 2022, 354 p. Um livro que é “dedicado a todos os cristãos que vivem em centros tecnológicos caros e exigentes, construindo igrejas de forma altruísta e influenciando as indústrias mais poderosas do mundo para o bem.” E que denuncia os 6 mitos mais comuns sobre tecnologia ouvidos em ambientes religiosos pouco racionais. São eles:

a. Os seres humanos definem os limites e as possibilidades tecnológicas da criação.

b. A inovação humana é autônoma, ilimitada e incontrolável.

c. Deus não está relacionado às melhorias da inovação humana.

d. Deus enviará as inovações mais benéficas por meio dos cristãos.

e. Os seres humanos podem gerar tecnopoderes além do controle de Deus.

f. Nossa descoberta do poder atômico foi um erro que Deus nunca desejou.

Para sabermos racionalmente enfrentar as mudanças complexas, profundas e sempre evolucionárias que acontecerão nos amanhãs cósmicos é necessário existir, sem tibiezas, como uma metamorfose ambulante, assimilando cada vez mais as conclusões emitidas pelo Apóstolo Paulo, em 1Cor 13,11, “sempre fazendo a hora, sem esperar acontecer.

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