CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Alice Carvalho dos Santos

Lá pelos meus 17 anos meu pai era Propagandista-vendedor de produtos farmacêuticos e passava cerca de 25 dias viajando pelo interior de Pernambuco.

Como residiamos no no bairro de Afogados, no Recife, mamãe aproveitava para passar semanas inteiras na casa das irmãs, na Boa Vista, onde aproveitava para costurar, ajudando a irmã mais velha, Tereza, que trabalhava com alta-costura.

Desde a juventude, aprendera, em Belo Jardim, a utilizar u’a máquina de costura Singer, ainda manual, que fora negociada com a família, por Pedro Moura Jr., Representante de Vendas daquela empresa.

O curioso é que quando me tornei escritor fui biógrafo desse ilustre político e ele me relatou que conhecera a Família Quaresma de Carvalho quando passou uns dias naquela cidade, onde conheceu a jovem Josefa, com quem veio a casar-se.

Mais adiante foi Prefeito da Cidade e anos depois fundou, com o filho Edson, a fábrica de Baterias Moura.

Todavia, quando papai estava no Recife – lembro-me bem – mamãe sempre costurava, após fazer as tarefas de casa. Era seu lazer. Já possuindo uma Singer elétrica, colocava a máquina na sala de jantar, que era o local mais fresco da moradia, e eu ficava sentado num banquinho, perto dela, conversando.

Costumava assenhorar-se sobre meu cotidiano, os trabalhos no City Bank, as aulas na Faculdade de Ciências Econômicas, as namoradinhas e me dava conselhos. Aqueles momentos funcionavam como um confessionário.

Foram meus melhores momentos com minha santa mãe. Mal sabia eu que ela iria falecer tão cedo, aos 52 anos. Certo dia estávamos num desses “convercês”, quando a vizinha bateu palmas no portão e indagou:

D. Alice, a senhora está muito ocupada? Pode vir até aqui?

Posso D. Arcelina! Estou apenas conversando com meu filho, costurando minhas verdades.

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