Corina e a tábua de pirulitos
Doutora Honuas Causa – em tudo: honra, resiliência e responsabilidade.
A beleza é predicado interior. Esse tipo de beleza não vai ao “Salão de Beleza”, não veste roupas da moda, não tem dinheiro e não dirige carros de luxo e blindados.
Hoje, deixo um pouco de lado meus avós, minha vida da infência no interior, meu aprendizado na escola da vida, e resolvo focar e render homenagem a uma mulher.
Desfilando honradez e resiliência pela prática do bem, CORINA SERRA MARTINS, 92 anos, mascida na cidade maranhense de Itapecuru-Mirim, em 1933 e há mais de 60 anos vivendo em São Luís, ganha a preferência destas linhas neste começo de julho de 2025.
Alguns anos atrás o marido (Sotero Macedo Martins) de Corina voltou ao barro, de onde todos saímos e para onde voltaremos. Acostumada coim a simplicidade da vida que levava – embora fosse proprietária do Hotel Nena, em São Luís – ao perder o marido e sem profissão definida resolveu se desfazer do hotel e tocar a vida com o dinheiro recebido na negociação.
O tempo passou e o dinheiro acabou. Corina caiu literalmente na realidade da vida – mas optou naqueles tempos por manter o maior capital que possuía: a honradez que transferia aos filhos.
Eis que o sino da infância foi sacudido. Corina lembrou que aprendera a fazer doces, quando ainda era uma jovem em Coroatá, interior maranhense. Os filhos não se opuseram e a discordância inicial veio apenas quando souberam que ela, Corina, seria a própria vendedora do seu produto: pirulito.
Uma tábua pesada que ficava mais pesada ainda com a carga dos pirulitos (120 pirulitos), vestida com roupas simples e subindo e descendo as ladeiras e escadarias do Centro Histórico de São Luís.
Sabor limão, por ser o mais barato ingrediente. Depois a diversificação do sabor para cajá, bacuri, manga e cupuaçu. O preço sempre o mesmo: equivalente a R$1,00 até os dias atuais.
Muitas pessoas compravam os pirulitos apenas com a intenção de “ajudar” Corina. Mas, ao provar o doce, reconsideravam e compravam mais para levar para as crianças de casa.
Nos dias atuais, quando chove ela procura abrigo. Quando não chove ela permanece – sempre foi assim – calada a espera da freguesia.
Corina em estátua
Agora CORINA SERRA MARTINS está exposta ao sol: chova ou faça sol.
A Prefeitura de São Luís foi tocada pela bondade e resolveu reconhecer Corina como uma das muitas pessoas que contribuíram desde muito tempo para as tradições da cidade – e resolveu homenagear Corina com uma estátua erguida na área preferida por ela no Centro Histórico.