Mais conversas, em livro que estou escrevendo (título da coluna). Como hoje, 11 de agosto, é o Dia dos Advogados, só com eles (nós).
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ANTÓNIO VALDEMAR, escritor. Lembrou casos reais ocorridos nos tribunais de Lisboa:
– Advogado: Essa doença, a miastenia grave, afeta sua memória?
– Testemunha: Sim
– Advogado: E de que modo ela afeta a sua memória?
– Testemunha: Eu esqueço-me das coisas.
– Advogado: Esquece-se… Pode nos dar um exemplo de algo que tenha esquecido?
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– Advogado: Doutor, o senhor lembra-se da hora em que começou a examinar o corpo da vítima?
– Testemunha: Sim, a autópsia começou às 20:30h.
– Advogado: E o sr. Décio já estava morto a essa hora?
– Testemunha: Não… Ele estava sentado, na maca, questionando-se por que razão eu estava a fazer-lhe aquela autópsia.
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FERNANDO LYRA, ministro da Justiça. Na Câmara dos Deputados, começou discurso dizendo
– Falo como advogado.
Seu colega José Mendonça, de Belo Jardim, aparteou
– Diga isso com menos pompa, Fernando. Que, nas provas, você filava de mim que sou um analfabeto.
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Por falar no deputado José Mendonça, ficou famosa uma briga deles, nos jornais. Fernando
– Você é uma lagartixa verde.
– E você escreve pipoca com 3 Ps e jumento com H.
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ISAAC PEREIRA DA SILVA, advogado. Convidou para sua defesa de tese de mestrado, na Faculdade de Direito do Recife. Ao entrar na sala um dos examinadores, o professor Gláucio Veiga, se dirigiu a ele
– Brilhante, Isaac. Brilhante.
Isaac nos confessou estar aliviado, por ser Gláucio o mais imprevisível membro da banca. Na inquisição, o mesmo Gláucio
– Dr. Isaac. Quando comecei a ler sua tese pensei que estava louco. Ao acabar, tive certeza, o louco é o senhor.
Isaac, furioso, quase teve um enfarte.
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JOSÉ CARLOS DE VASCONCELOS, jornalista e advogado. No antigo Tribunal da Boa Hora (depois, da Relação), hoje um velho convento situado na Rua Nova do Almada (Lisboa), o juiz dormia seu sono tranquilo. O dos justos. Cumprindo regra de Fernando Pessoa (Boa é a vida), “bom é o vinho, mas melhor é o sono”. E o julgamento que presidia seguia sem problemas. Ocorre que Cunha Leal, advogado das antigas, deu tantos berros na defesa do seu cliente que o pobre juiz acordou “meio estremunhado” (mal acordado, palavras de José Carlos). E, quase sem querer, disse
– Oh, senhor doutor, não é bem assim…
– É assim mesmo, Excelência. O nosso problema é que aqui os juízes sabem mais, a dormir, que todos os advogados de Portugal acordados.
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NILO BATISTA, catedrático de Direito Penal. À época, presidente da OAB-Rio. Dando-se que Silvio Viola, e outros amigos, prepararam essa peça. Uma denúncia, ao Conselho Seccional da Ordem, por propaganda ilegal da profissão. Apresentando, como prova, esse jingle gravado por Lucinha Lins.
– Habeas-corpus na hora
Revisão Criminal
Quem está dentro sai fora
Ele é sensacional
Dotô Nilo Batista
É melhor que ninguém
Nem Heleno Fragoso
Tem o jeito que ele tem.
Mesmo em fins de semana
Sempre à disposição
Ele é bamba no crime
E na contravenção
Dotô Nilo Batista
Não existe outro igual
Data vênia é um artista
No Direito Penal.
Nilo quase morreu. De raiva. E só (muito) depois achou graça.
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SILVIO NEVES BAPTISTA. Advogado e Professor de Direito Civil na Faculdade de Direito do Recife. Em seu escritório, mulher para tratar de seu divórcio. Contou que, no desespero de ser agredida pelo marido, preferiu o suicídio e se jogou do seu apartamento. Situado no décimo andar. Ocorre que a queda foi amortecida por andaimes de obras em curso no edifício. E teve a sorte de cair sobre um monte de lixo. Resultado, apenas uma perna quebrada e arranhões no braço. Foi quando alguém entrou na sala e cumprimentou Sílvio por ter sido eleito para a Academia Pernambucana de Letras. Acadêmicos, todos sabem, são chamados de imortais. O poeta Olavo Bilac, fundador da Academia Brasileira de Letras, até definiu com graça
‒ Imortal é quem não tem onde cair morto.
Certo é que, ouvindo aquela informação, a cliente perguntou
‒ O senhor é imortal?
E Sílvio, considerando ser incomum alguém sobreviver a uma queda do décimo andar, respondeu
‒ Imortal é a senhora.
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No restaurante do Hotel Tropical (Manaus), o garçom anotava pedidos para o jantar. Depois foi conferindo, com cada um dos presentes,
‒ O senhor é filé?
Por aí. Quando chegou em Silvio, apontou para ele com a caneta na mão e perguntou
‒ O senhor é frango?
Não resisti
‒ E como foi que o senhor descobriu?
Todos riram. Mas ele passou dois dias sem falar comigo.
Dr. Paulo, tem várias histórias de um advogado pitoresco do Ceará, Quintino Cunha.
Segue uma delas:
Quintino Cunha fazia uma viagem de trem para Canús, mas no meio do caminho fez uma parada em Iguatú. Era o dia da inauguração do novo prédio do Foro. Alguns colegas, ao encontrarem Quintino na estação, convidaram-no para participar da solenidade.
Mal humorado, Quintino perguntou:
– Quem é o juiz?
– É o Doutor Fulano.
– Esse é burro! O promotor?
– Sicrano.
– Grande cavalgadura! E o advogado?
– Beltrano.
Desdenhoso, Quintino torceu o nariz e resmungou:
– Isso não é um Foro, é um desaforo!
Salvo engano, o advogado pitoresco chamava-se José Quintino da Cunha. Ficou conhecido como Quintino Cunha.