JOSÉ PAULO CAVALCANTI - PENSO, LOGO INSISTO

Lisboa. Mais conversas, em livro que estou escrevendo (título da coluna). Como sexta passada foi o dia de Santo Ivo, padroeiro dos advogados, hoje só com eles. Com nós, melhor dizendo.

* * *

ADMALDO MATOS, advogado. Com caso para decidir, na Secretaria da Fazenda de Pernambuco, chamou o procurador João Pinheiro Lins e pediu parecer. Ele

‒ O que deseja?

‒ Só diga o que achar certo.

E João, balançando os dedos no rosto de Admaldo, sentenciou

‒ Está pensando o quê? Eu não estou aqui para obedecer nenhuma lei, meu papel é só dar fundamento jurídico às arbitrariedades da administração.

* * *

ANTÓNIO VALDEMAR, escritor. Lembrou casos reais ocorridos nos tribunais de Lisboa:

– Advogado: Qual foi a primeira coisa que disse o seu marido quando acordou, aquela manhã?

– Testemunha: Ele disse Onde estou?, Berta.

– Advogado: E por que é que se aborreceu?

– Testemunha: O meu nome é Célia.

* * *

– Advogado: Aqui no tribunal, para cada pergunta que eu lhe fizer, a sua resposta deve ser oral, está bem?

– Testemunha: Sim.

– Advogado: Que escola frequenta?

– Testemunha: Oral.

* * *

– Advogado: Doutor, antes de fazer a autópsia, o senhor verificou o pulso da vítima?

– Testemunha: Não.

– Advogado: O senhor verificou a pressão arterial?

– Testemunha: Não.

– Advogado: O senhor verificou a respiração?

– Testemunha: Não.

– Advogado: Então é possível que a vítima estivesse viva quando a autópsia começou?

– Testemunha: Não.

– Advogado: Como é que o senhor pode ter a certeza?

– Testemunha: Porque o cérebro do paciente estava num jarro sobre a mesa.

– Advogado: Mas ele ainda poderia estar vivo?

– Testemunha: Sim, é possível que estivesse vivo a tirar o curso de Direito em algum lugar!!!

* * *

FERNANDO LYRA, ministro da Justiça. Lyra me procura, feliz,

‒ A Câmara de Vereadores de Caruaru (Pernambuco) decidiu dar meu nome a um novo conjunto habitacional que vai ser inaugurado. Por favor, redija o parecer da Comissão de Justiça para fundamentar a votação.

‒ Má notícia, amigo. É que você vai precisar ir para o céu, antes. A Lei 6.454/77 só permite nome em “logradouros e monumentos públicos” depois que o cidadão morre. Infelizmente. Ou não, que você ainda está vivo.

Foi embora irritado. Um mês depois, mostrou lei criando o “Conjunto Habitacional Fernando Soares Lyra”. E parecer da Câmara firmado por um jurista/vereador. Dizia mais ou menos assim (resumo):

‒ Há homens mortais e aqueles eternos. Para os primeiros, o tempo conta. Já para os outros, não. Que, por tudo que fizeram, jamais serão esquecidos. A lei dos nomes vale só para mortais. E, nunca, para eternos ainda em vida. Como Fernando Lyra. Por isso, nada impede que se dê o nome do ministro a esse Conjunto Habitacional.

E Fernando completou

‒ Juristas bons são os de Caruaru.

* * *

GENTIL MENDONÇA FILHO, advogado trabalhista. Fomos colegas de classe no Colégio Nóbrega. E próximos, ao longo de nossas vidas. Começo de fevereiro, vésperas do Carnaval, estava num quarto de hospital e pediu para falar comigo. Foi a última conversa que tivemos. Vesti avental de papel, máscara no rosto, essas coisas de proteção para os pacientes e entrei. Ele, sem meias palavras,

– É danado, amigo Zé Paulo.

– Pare com isso, Gentilzinho, amanhã você já está bom.

– Levei os exames que o doutor pediu, perguntei o que é que eu tinha, e sabe o que ele respondeu?

– Não…

– Doutor Gentil, o senhor está apodrecendo.

Pouco depois acabou, no dia 11, quinta feira. Na véspera, foi quarta-feira de cinzas. Agora, as cinzas eram ele. Vida injusta. “E para ti, ó Morte, vá a nossa alma e a nossa crença, a nossa esperança e a nossa saudação!”, palavras de Fernando Pessoa (Bernardo Soares, no Livro Desassossego). Quando refiz o diálogo, escrevi “Você está morrendo”. Sua viúva, Paula, a quem pedi autorização para contar essa história, corrigiu

– Foi assim não, eu estava presente.

Riscou morrendo e escreveu, em seu lugar, a palavra correta, apodrecendo. Viva Gentil.

* * *

GIBRALDO MOURA COELHO, advogado penalista. Na Ditadura, quando Nilo Coelho foi nomeado governador de Pernambuco, a gente ficava dizendo ao velho comunista

– Agora você vai se apresentar, dando ênfase no sobrenome, como Gibraldo Coelho (assim era conhecido). Só para ter vantagens, nas delegacias, por pensarem que é parente do governador.

– Parem com isso, por favor, todos sabem que sempre fui oposição.

– Nada, Gibraldo, você quer mesmo é faturar.

E foi tanta brincadeira que tomou uma decisão drástica. Trocou de nome. Passando a ser, para todos os fins, Gibraldo Moura. Na placa do escritório, nos papéis, no catálogo telefônico, nos cartões de visita. Só não contava é que o governador que substituiu Nilo Coelho fosse José… Moura. Como ele, agora, Gibraldo Moura. E não perdi a oportunidade

– Bicho inteligente, virou Moura só para se aproveitar do sobrenome.

– Aqui para nós, amigo, Ele não foi justo.

– Ele quem?, Gibraldo.

– Deus, Zé Paulo. Deus.

* * *

(MARCELO NAVARRO) RIBEIRO DANTAS, ministro do STJ. Em 14/07/2022, mandou mensagem

– Viva os 107 anos do glorioso América Futebol Clube, de Natal.

Após o que completou

– Outro evento, de menor importância, são os 233 anos da Revolução Francesa.

* * *

Mandou foto de placa em barzinho que frequenta, na Praia de Pirangi (RGN),

‒ Pão na chapa:
Com manteiga, 2,50.
Com margarina, 2,00.
Sem manteiga, 1,50.
Sem margarina, 1,00.

* * *

Ao pensar nas dores da alma, escreveu

– Amargura?
Amar cura.
Solidariedade?
Só lhe dar a idade.
Morri?
Amar, ri.
Sentimento?
Sem ti minto.
Jamais?
Já, mas…

* * *

ROBERTO ROSAS, advogado. Lembrou que perguntaram ao Ministro Orozimbo Nonato, do Supremo,

– O senhor foi juiz?

– Fui.

– E quando largou o apito?

4 pensou em “CONVERSAS DE ½ MINUTO (28)

  1. Historinha meio boba, mas que pode entrar nesta antologia dos advogados.

    Ele passeando com seu cachorro, foi interpelado pela dona de uma quitanda
    -Dr. se um cachorro passa por aqui e come minhas bananas, de quem eu devo cobrar?
    – Do dono do cachorro, é claro!
    – Pois então, o sr. me deve 10 reais. Seu cachorro passou ontem por aqui, comeu uma banana e estragou a penca.
    -Minha cara senhora, por consultas assim em pé na calçada eu cobro apenas 50 reais. Nesse caso, a senhora é que me deve 40 reais

  2. Essa historinha é contada com o argui Barbosa. Mas não acredito nela. Parece mais uma piada, mestre Brito. E, no livro, entrarão só histórias reais. Mande outra, por favor. Abraços lisboetas.

  3. Dr.º Zé Paulo, conte mais histórias engraçadas do extraordinário Fernando Lyra, político raríssimo, que não se encontra mais na política Brasileira.

    Ou do jurista feito Afonso Arinos de Melo, homem probo, impoluto, que se zangava quando lhe interrompia a soneca.

    Forte abraço, do amigo do coração.

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