Mais uma história com nosso pai, que teria feito 100 anos em 2/2/2022. Saudades, como dói lembrar. Mas segue a vida. Cheguei em casa triste, perguntou a razão. Expliquei que, como ele sabia, não podia mais estudar no Brasil (depois, ainda me proibiriam de ensinar). Implicância da Ditadura. Por ser presidente do Diretório Acadêmico. E havia ganho bolsa para Harvard (Estados Unidos), com tudo pago. Meu problema era não ter como tirar passaporte, por não conseguir a Folha Corrida. Pedir democracia, naquele tempo, era crime. Ele não falou nada. Mas na manhã seguinte, cedinho, chegou na Rua da União. Onde ficava a Secretaria de Segurança Pública. Sorbonne, assim era conhecida. Para conversar com o secretário, sem nem saber quem era. Só chegaria às 8hs, informaram. Ficou esperando. Até quando apareceu, por lá, seu maior amigo de infância. Vizinho, de muro, na Rua Fernandes Vieira. Passaram a conversar sobre o passado. Até quando Môa perguntou
– Tás fazendo por essas bandas o quê?, amigo.
– Esperando o secretário, Môa.
– Então vamos entrar na sala.
– Ficou doido?, homem. Vou esperar aqui fora.
– Vamos entrar, Zé.
E levou meu pai, aos empurrões, para lá.
Chegando, sentou na cadeira do secretário.
– Sai daí, Môa, que você vai acabar preso.
– Acho que não, Zé. Olha aqui a placa, Moacir Sales – Secretário.
– O secretário é você?
– Está falando com ele, amigo. O que lhe trouxe aqui?
Meu pai explicou. Môa chamou, no fim da sala,
– Cabo, prepare aí um Nada Consta para o filho do meu amigo.
O cabo levantou e já ia saindo da sala quando Môa o interrompeu.
– Inda que mal lhe pergunte, Vossa Excelência está indo para onde?
– Buscar a Folha Corrida do rapaz.
– Ô doutor cabo, eu mandei o senhor buscar a Folha Corrida ou bater um Nada Consta?
– O doutor mandou bater um Nada Consta.
– Quem vai assinar é você ou eu?
– É o doutor, claro.
– Pois sente na porra dessa cadeira, prepare o porra do Nada Consta, ponha na porra de minha mesa e desapareça da minha frente.
Assinou, entregou a meu pai e ficaram conversando até o fim da manhã. Lembrando os bons tempos. A Ditadura brasileira, de vez em quando, tinha disso. O compadrio. As velhas amizades. E acabou tudo bem, que viajei sem problemas. No fim, deu tudo certo.
É como dizia meu velho pai: – Amigo é melhor que dinheiro!
Não mudou quase nada. Por muito pouco não tivemos Eduardo Bolsonaro embaixador em NY. Como disse o comentarista acima: Amigo é melhor que dinheiro!
Arretado. A folha continuou a corrida?
Dr Zé Paulo, feliz com o seu retorno às folhas deste JBF e do JC. Suas conversas de 1/2 minuto valem por muito mais que 24 horas de uma sexta-feira feliz, apesar da Covid, da Guerra e de tudo oo mais que há. Abraço fraternal
O que mais admiro nestas histórias é a presteza, rapidez e disposição de serviço na ação de alguns executivos.
Eu trabalhava com o editor (e ex-deputado) Fernando Gasparian, quando ele era superintendente do Parlamento Latino-Americano, em São Paulo (1997) Ele pediu ao gerente administrativo que lhe avisasse imediatamente, assim que chegasse tal correspondência.
No outro dia o gerente entra na sua sala e avisa que não chegou nada. No outro dia, deu-se a mesma coisa e assim sucessivamente até o resto da semana .
Na 6ª feira, após saber que ainda não chegou nada, Dr.Gasparian perguntou ao gerente:
– Sr. fulano, o que eu lhe pedi?
– Que eu lhe avisasse quando chegar a tal correspondência.
– Então, por que diabos o senhor vem me avisar todos os dias que não chegou nada?