Confesso sem qualquer porém: não nutro simpatia alguma pelos fanáticos, sejam eles fundamentalistas religiosos, esportivos, políticos e ideológicos, entre outros. E ainda defino como tal um tipo camuflado de fanatismo; o dos moralistas.
A minha antipatia se manifesta primeiramente diante dos fanatismos jumentálicos, aqueles que se explicitam despidos de argumentos racionais mínimos, sem os quais não se principia um diálogo consequente, ainda que jamais convergente.
Ratifico o pensar da vovó Neuza, 82 primaveras tinindo de muita pensação: “perdi completamente o pouco preconceito que porventura tinha. Preto, branco, amarelo, rico, pobre, famoso, desconhecido, todas os gêneros, são todos iguais. Só não tolero burrice e ignorância. Perco logo um pouco da minha paciência”.
Há, no campo religioso, um transtorno mental denominado “síndrome de Jerusalém”: pessoas que, visitando a Cidade Santa, de repente se inflamam, pondo fogo em mesquitas, igrejas e sinagogas. Ou, se comportando de uma outra maneira, tirando as roupas, subindo num elevado qualquer e começando a profetizar para três ou quatro apenas curiosos. E os pronunciamentos são os mais diferenciados, indo de política, poluição, fim próximo do mundo, nudismo, bem e mal, sexo, homofobias, meio ambiente e excesso de silicone nos peitos e nas bundas.
Acredito que somente os moderados de cada tipo de sociedade poderão estancar as fúrias dos fanáticos, desde que o debate seja explicitado efetivamente através de manifestações racionalmente constituídas de esperança na efetivação das soluções para os principais problemas apresentados. Restaurando alegrias, fascinações, entusiasmos e os “desmedos” (não-medos) indispensáveis.
Um estudioso de fanatismo, Amós Oz, judeu militante do Movimento Paz Agora, diz que “o fanatismo está em todos os lugares, e suas formas mais silenciosas, mais civilizadas, estão presentes em nosso entorno”. E enfatiza: “a semente do fanatismo sempre brota ao se adotar uma atitude de superioridade moral”.
Qual a melhor arma para se combater o fanatismo? O senso de humor é a indicação eleita em todos os quadrantes, psiquiátricos, psicológicos e comportamentais. E a prova é cabal: nunca se viu um fanático com senso de humor, a recíproca também sendo muito verdadeira, nunca se viu uma pessoa dotada de senso de humor tornar-se fanática. Resultado: quem tiver senso de humor fica como que imune ao fanatismo. É sempre bom reparar o comportamento de uma pessoa fanática, civil, militar, política ou religiosa, diante de uma outra muito bem humorada, que sabe contar uma boa história, algumas até bem apimentadas, sem resvalar para mediocridades: geralmente olhando de soslaio, de cara meio amuada, externando risinhos mínimos para não ser identificado como um que não compreendeu devidamente o “espírito da coisa”. E geralmente não tolera que o bem-humorado esteja no centro das atenções, quando ele deveria ter para ele todos os holofotes, dada sua superioridade auto classificada.
Tenho um amigo-irmão que me relembra, vez em quando, como sua avó querida explicava aos netos a diferença entre judeu e cristão. Dizia ela: “Vejam só: os cristãos acreditam que o Messias já esteve aqui e que certamente voltará algum dia. Os judeus sustentam que o Messias ainda está por vir. Já houve tanta raiva, perseguição, derramamento de sangue, ódio a respeito disso. Por quê? Por que as pessoas não podem simplesmente esperar e ver? Se o Messias vier e disser “oi, é bom revê-los”, os judeus vão ter que reconhecer seu engano. Se, de outro modo, o Messias chegar dizendo “muito prazer, é um prazer conhecê-los”, todo o mundo cristão terá que pedir desculpas aos irmãos judeus. Entre o dia de hoje e aquele momento futuro, apenas vivam e deixem viver”.
Não se deve ser pacifista sob motes sentimentalóides, muitos delas camuflando covardias e frouxidões. Acredito que toda guerra é trágica, embora considere que o pior de tudo é a agressão planejada entre povos vizinhos.
E o poeta Robert Froes estava recheado de razão: “Uma boa cerca faz bons vizinhos”.
PS. Sou contra aborto, salvo as exceções previstas em lei. Mas a atual PL deve ser amplamente discutida, sem açodamentos nem preconceitos. Muito infeliz a posição de apoio da CNBB à atual PL.