CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Palácio do Rádio antiga sede da Rádio Clube de Pernambuco

O progresso exige reflexões porque em algumas ocasiões atribulam aqueles que se apegam às tradições de suas glebas. É de o caso das empresas de comunicação, notadamente jornais e rádios, quando desaparecem do nosso cotidiano, porque deixam marcas indeléveis em nossas melhores lembranças.

Mesmo mudando apenas de formato.

Há poucos meses desapareceu, em papel impresso, o tradicional Jornal do Commercio, do Recife, limitando-se às publicações por vias eletrônicas, atendendo à modernidade do mercado publicitário, pela pressãodos custos dos insumos e do estilo mais refinado dos leitores.

O Diário de Pernambuco, atualmente completando 180 anos de atividade ininterrupta, é considerado o mais antigo jornal em circulação na América Latina, entretanto, permanece com vendas em bancas e assinaturas; apenas alterando o formato, agora em estilo de tabloide.

Voltam-me algumas lembranças. Até poucos anos, quando participei do Departamento de Produtos Especiais, como repórter da equipe de Arijaldo Carvalho, o Diário publicava todas as semanas um Suplemento sob a forma de tablóide, dedicando-se a temas do interior de Pernambuco.

O novo formato lhe permitiu resistir e parece que seus atuais gestores se empenham para que o periódico chegue aos 200 anos de atividade. Diminuiu de tamanho mas continua sendo impresso em papel.

Mas, uma espécie de tsunami vem tirando de circulação tradicionais veículos de comunicação e vão levando também as emissoras de rádio. Já se prevê que brevemente, ao que parece, desaparecerão também as emissoras de televisão.

Esse triste final tem, acima de tudo, um motivo: a fragilidade do comércio e da indústria. As agências de propaganda tiveram que redirecionar seus planos, pois, diante das chamadas Redes Sociais, a captação de propaganda se tornou muito difícil.

Esses milhares de canais de comunicação que vemos na internet vão atraindo milhares de pequenos anúncios e confirmando que sua penetração deu novas formas às antigas maneiras de divulgar propagandas e programas.

Se em anos outros já se dizia que a Televisão diminuiria em 50% a conquista de anúncios das Rádios, agora quem está liquidando com ambos são os canais individuais, pois, face à internet, qualquer pessoa pode montar um estúdio e botar no ar reportagens, notícias e interessantes programas, apenas usando um smarthphone.

Todavia corta nosso coração saber que mais uma antena sai do ar. O antigo clube de radiófilos que funcionava na Escola Superior de Eletricidade, do Recife – transformada depois em Rádio Clube de Pernambuco – foi inaugurada em 6 de abril de 1919 e funcionava sob o prefixo de PRA-8, anunciou que no próximo mês encerrará suas atividades.

A Rádio Clube não somente divulgava assuntos gerais. Criou hábitos e promoveu benefícios às famílias. Na década de 1930 fui ouvinte de programas notáveis. Todos os dias, às 18 horas, minha mãe se concentrava para ouvir a Ave Maria, escrita por Mário Libânio e apresentada sob a locução de Abílio de Castro.

Acostumei-me a fazer exercícios no lar, com meu pai, às 6h da manhã, ouvindo um fizicultor orientar os ouvintes e receber instruções compassadas de Ginástica Canadense.

Aos domingos se postavam diante dos receptores muitos desportistas para ouvir as locuções esportivas de Antônio Maria. A “Hora Azul das Senhorinhas”, sob o comando do maestro Nelson Ferreira, era programa que concentrava a juventude feminina ao pé do receptor.

Pelo rádio escutávamos os seriados de “O Sombra”, as rádio-novelas e notáveis programas de auditório, no Palácio do Rádio Oscar Moreira Pinto, sede da Rádio Clube.

Agora, com a triste notícia do seu desaparecimento, só nos resta lamentar pelo muito que a PRA-8 nos ofereceu gratuitamente. Agora, com a triste notícia do seu desaparecimento, só nos resta lamentar pelo muito que a PRA-8 nos ofereceu gratuitamente. Felizmente vivi a época em que suas instalações eram o Palácio do Rádio.

Já fui “macaco de auditório!” Pulava de emoções!

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