PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:
Quem me dera que eu fosse aquela loira estrela
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

Pudesse eu copiar-te o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela
Mas a lua, fitando o sol com azedume:

Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume!
Mas o sol, inclinando a rútila capela:

Pesa-me esta brilhante auréola de nume…
Enfara-me esta luz e desmedida umbela…
Por que não nasci eu um simples vagalume?

Joaquim Maria Machado de Assis, Rio de Janeiro-RJ, (1839-1908)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *