Alta madrugada. Todos dormem, menos eu. Uma da manhã e o insistente apitar de um alarme automotivo não me deixa pregar os olhos. O sol repousando, faz tempo, e eu desperto. Bebo um copo d’água e volto à cama. Eis que passa na rua uma dessas motos que o dono tem por prazer alterar o cano de escape para provocar zoadas e acordar os incautos. Certamente esses imbecis não tem pais ou parentes velhos ou doentes. Ou, se os tem, passam em frente às suas casas empurrando a moto, nunca nela montados a perturbar o sono dos que ali moram.
De novo, o buzinar do perverso carro volta a zoadar e antes que volte a fechar os olhos outra vez me aborreço com o barulho, desta feita ocasionado por um caminhão que passa sobre um buraco na rua, provocando um terremoto no prédio onde moro. E olha que moro no 9° andar. Zoada que o mais mouco dos ouvidos ouviria. Maldigo a Prefeitura que não cuida dos buracos da rua e os motoristas que não os enxergam. Sono refeito, um avião – certamente com destino mais silencioso, passa por sobre o prédio. Bem feito: quem mandou morar nas proximidades do aeroporto, em que os aviões ao subirem ou descerem passam baixinho (acho que admirando a beleza da praia de Candeias)?
Já com o sol despontando, acordo, novamente, agora pelo interfone: o porteiro avisando que o alarme do meu carro, insistentemente e sem motivo aparente, acionou-se, misteriosamente, a cada trinta minutos, voltando a silenciar-se após deixar acordado o prédio inteiro. Quem dera pudesse realizar meu sonho de morar num lugar sem sobressaltos, onde se ouça apenas o cantar das cigarras e dos passarinhos, barulhos bons, ou o cri-cri dos grilos, que também me enternecem. Levanto, cansado pela noite mal em claro, para ir à oficina verificar o que está ocorrendo de errado com meu carro inconveniente e seu apitar tão deseducado. Aproveito para comprar um protetor auditivo. Só quero dormir esta noite.
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Essa coisa de sono, só não é bom quando se trata do eterno. E Pessoa dizia sempre “ bom é o vinho, mas melhor é o sono “ . Os dois tem razão.,viva Pessoa. E viva o grande Xico!!!
Que seja eterno o Vinho. O sono, desde que reparador, pode ser breve, Dr. Zé Paulo. Sigamos, cochilando e bebendo …
Bebendo como?, mestre Xico, se nunca bebi álcool na vida. Troque por agua de coco, ou sucos ( pela ordem de mangaba, cajá ou caju ) , e conte comigo.
Cochilemos, então, com um gostinho de graviola na boca (meu suco predileto), para não perder a amizade e a companhia.