Gosto da modernidade, não vivo sem televisão, sem computador, nem o celular. Porém, o modernismo trouxe o detestável patrulhamento, o “Politicamente Correto”. O adolescente que ainda levo em minha alma é irreverente, meio anarquista, politicamente incorreto e se choca com essa vigilância globalizada.
Durante minha juventude, fizemos muitas presepadas, éramos maloqueiros das ruas de Maceió. Com o amadurecimento nos aquietamos, o conhecimento adquirido através do tempo nos tornou pacatos cidadãos, como meu querido amigo, Ulisses Ávila, Chumbinho de apelido. Veterinário, ocupou diversos cargos de relevância no Estado de Alagoas, hoje cidadão tranquilo que leva a vida administrando sua idade provecta. Conhecendo aquele educado senhor, ninguém dirá que foi um dos jovens mais irreverentes dos anos 1950/60 na cidade de Maceió.
Naquela época era costume organizar times de futebol juvenil nos bairros. Na Avenida da Paz, foi criado o Atlântico Futebol Clube. Em cada bairro havia um time. A turma do Farol, liderada pelo Cláudio Oiticica e o Chumbinho, criou o Palmeira Futebol Clube. A sede ficava próxima à Rua Comendador Palmeira. Tinha excelentes jogadores, chegou a disputar o campeonato alagoano de futebol juvenil. Para manter a forma física, estabeleceram dois treinos na praia durante a semana. Às cinco horas da manhã, nos dias de treino, a juventude do Palmeira descia o bairro do Farol para treinar na praia. Depois de muito correr, tinha a compensação, cada jogador ganhava um pão. Essa ideia partiu do Diretor Ulisses Ávila. Perguntaram com que dinheiro ele compraria o pão. Respondeu que deixasse com ele.
Enquanto os jogadores desciam à praia às cinco da manhã, as sacolas de pão já haviam sido jogadas nos terraços das casas pelos funcionários da padaria em suas bicicletas. Chumbinho, com um comparsa, na maior desfaçatez, pulava o muro baixo da entrada da casa e pegava a contribuição do morador, uma sacola de pão para o time. Alguns moradores desconfiaram e passaram a mandar comprar o pão da manhã na padaria, outros levavam na brincadeira. Mas um Doutor ficou revoltado, colocou um cachorro no jardim. Quando Chumbinho apareceu, foi derrotado pela brabeza do cachorro. Na véspera de um treino Chumbinho e amigos estavam sentados no banco da praça quando notou uma cachorra vira-lata no cio e seis cachorros querendo cruzar com ela.
Chumbinho se aproximou com um saco, conseguiu encaçapar a cachorrinha e a deixou amarrada em seu quintal. Dia seguinte, cinco horas da manhã, desceu para o treino com os amigos do Palmeira, levando a cachorra magra embrulhada em um saco. Ao passar na casa do Doutor percebeu o cachorro bem ao lado da sacola cheia de pão. Ao aproximar-se, o cachorro começou a latir, Chumbinho sacudiu a cachorra no cio dentro do quintal longe da sacola de pão. O cachorro, com o olfato apuradíssimo, correu e ficou cheirando, cheio de desejo, as partes íntimas da cachorra no cio. Chumbinho rapidamente pulou o muro baixo e trouxe a sacola cheia de pão. Foi aplaudido pelos colegas. O Doutor fez a reclamação aos pais dos jovens jogadores do brilhante Palmeira.
OBS – Essa crônica está inserida no livro MACEIÓ, MINHA LINDA lançamento na Bienal.
Obrigado e, claro, parabéns pelo texto, Capitão!
Qualquer jovem que viveu os anos 50/60 e não era irreverente, não viveu, apenas passou pela vida. Tenho orgulho de minhas presepadas junto aos amigos neste maravilhoso período.
Obrigado Nonato e Marcos Pontes. Não éramos politicamente corretos, graças a Deus.