Moenda
O calor abrasador se aproxima dos 40 graus. As sombras das árvores não têm muita serventia. Mas, ainda é na sombra, que transeuntes minimizam os efeitos do calor que se torna insuportável.
E a danada da chuva que não vem. Mas continuam as rezas para São José, o Padroeiro do Estado.
Fortaleza, capital do Ceará. Exatamente 10 horas e o sol continuava inclemente. Apressados, passantes procuram as sombras das árvores nas praças. A preferida é a Praça General Tibúrcio, local onde antes funcionou a sede da Prefeitura Municipal de Fortaleza, e naquele mesmo período, a sede da Secretaria de Segurança do Estado.
Ali naquele logradouro aconchegante, o calor é amenizado com ares de oásis e fica melhor ainda se você sentar numa cadeira de um Engraxate para mandar dar um brilho nos sapatos. Se você estiver muito cansado, é capaz de dormir, tamanho é o frescor da brisa que sopra.
Mas, o calor fortalezense também pode ser amenizado em outras duas praças, próximas uma da outra. A conhecida Praça dos Leões com vários acessos para a Rua Sena Madureira e bem próxima do antigo Mercado Central, e a mais conhecida, mas não tão bem arborizada, Praça do Ferreira.
Mas, ainda que sem a necessária arborização, era na Praça do Ferreira que ficava a pastelaria Miscelânea, hoje Leão do Sul, onde é servido o melhor e mais concorrido caldo de cana com o mais gostoso pastel com diferentes recheios.
Caldo de cana caiana
Próximo dali, na esquina da Rua Perboyre e Silva com Rua Floriano Peixoto, ficava o antigo Café Cearazinho, onde o café fazia ameaçadora concorrência para a Miscelânea – essa atravessou o século XX no auge do prestígio.
– Seu Zé, me dá dois pastel e um caldo!
– Cadê as fichas?
– Taqui!
– Pastel de que?
– Um de queijo e o outro de carne!
Pastel de carne e queijo (misto)
Bem distante dali, viajamos horas de avião, ou dias de ônibus, e chegamos a São Paulo. Antigamente, desembarcávamos na Estação da Luz, onde também funcionava o Terminal Rodoviário.
Agora, viajantes por via terrestre (ônibus) embarcam e desembarcam no Terminal do Tietê. São Paulo mudou pouco, se não levarmos em consideração a violência urbana. Quase tudo que existia no Centro da capital, ainda existe hoje. Pouco ou quase nada foi acrescentado.
Distante do Centro, chegamos numa manhã dominical à Feira Livre do bairro Limão, uma das mais concorridas de antigamente, que manteve algumas tradições. Como bares e restaurantes vendendo galetos e um excelente cupim bovino assado na roldana. Uma maravilha. O petisco, servido com pão de queijo e uma cerveja Caracu gelada, não tem concorrência.
Mas, é na feira livre que encontramos a novidade não tão nova assim. Caldo de cana com limão sem semente (para evitar amargar), ambos passados na moenda. Acompanhado de pastel com vários recheios preparados pelos “chinas”. Outra maravilha da vida. Irresistível!
Faz parte da nossa vida cultural e dos nossos hábitos cotidianos, não dar muita atenção à higiene do que se come fora de casa. Assim, o pastel frito na hora é aceito e comido de qualquer jeito. Nunca se soube se a massa ou o queijo estão com validades garantidas.
– O que tem nesse pastel, “china”? (na maioria das vezes o atendente é nordestino e nem se incomoda muito com a nova “naturalidade”)
– Carne de boi e azeitona!
Come-se o pastel até o fim e a azeitona não é encontrada. Da mesma forma, o pastel com recheio de camarão.
– “China” cadê o camarão desse pastel?
– Tu queres um quilo de camarão num pastel desses, é?
E assim, como diálogos desse nível, ainda se come o melhor pastel de São Paulo, acompanhado de um caldo de cana moído com limão.