Eu e tu numa redinha
Num vai e vem compassado
Ouvindo o canto de um torno
Em um gemido arrastado
Enquanto pela janela
Vem beijar tua face bela
Um ventinho assoprado.
Assoprado do nascente
Depois de lamber o mar
Trazendo na brisa fria
Um quê de “te quero amar”
E o meu pé na parede
Empurra a nossa rede
Fazendo um torno cantar.
Cantar de pura alegria
Por nós dois ali deitados
Tu dormindo no meu peito
Eu com meus olhos fechados
Cheirando os teus cabelos
E todo ancho por tê-los
Sobre o meu peito assanhados.
Assanhados pelo vento
Entrando pela janela
Refrescando o fim da tarde
Enquanto o torno à capela
Vai seu lamento cantando
Gemendo e nos balançando
Numa cantiga singela.
Singela feito teu rosto
Tão belo sobre meu peito
Descansando do amor
Há pouco na rede feito
Invejado pelo vento
Que o torno sem movimento
Até chamou de perfeito.
Perfeito feito o quadro
Dos dois pares de calçados
Esquecidos sob a rede
Uns sobre outros deixados
Largados sobre o tapete
Ouvindo o torno em falsete
Como dois apaixonados.
Apaixonados!
Como eu e tu na redinha.
Esse negócio é sério…. como dizia Coroné Ludugero para sua querida Filomena…. “a rede veia comeu foi fogo foi cum nós dois para e para cá”…. esse balanço me lembra essa música de Jorge de Altinho
Às vezes fico pensando, morena
Se tu pensas em mim, morena
Se tu pensas que lembras, morena
Mas porque lembras de mim
Será do troco das piadas engraçadas
Que eu te contava à meia noite, à meia voz
Do candeeiro da fumaça desgraçada
Que atrapalhava nosso amor sob os lençóis
Das madrugadas que o desejo convidava
Prum passeio noturno pra variar
Ou do amor exagerado em noite fria
Quando a lua se escondia pra não ter que espiar
Era um tombo só
Feito o balanço do mar
Era um tombo só
Eu de cá e tu de lá