ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

Arsênio de Brito

Conheci Arsênio de Brito já no final de sua vida. Gostava do velhusco. Vivia a contar causos e assucedidos do seu tempo de rapazola, principalmente durante sua vida militar quando estivera de prontidão na Base Naval de Ladário, pronto a ir combater aquele sujeito de bigodinho escroto que tiranizava a Europa na Segunda Guerra Mundial. Contou-me, certa vez, entre risos e deboches, o excelente negócio que fizera com dois marujos norte-americanos, vendendo papagaios pantaneiros para os curibocas dos Zisteites. Arsênio embolsou uma bela grana em dólar e vendeu dois filhotes de urubus – do tipo Coragyps atratus -, passando a lábia nos gringos, dizendo que quando crescessem ficariam verdes, lindos e faladores.

DIVA

Trabalhei em uma unidade escolar na belíssima, porém quente, Corumbá dos meus amores, aqui no Glorioso Mato Grosso do Sul. Como estava adjuntando, nessa época, final de um ano e início de outro era aquela loucura de transferência, certificado de conclusão de curso, matrícula. Mas, sempre havia aqueles momentos de relaxamento entre turnos, então a DIVA – Departamento de Investigação da Vida Alheia – corria solta na secretaria escolar. Havia os investigadores, os checadores de informações e os responsáveis por fazer circular a notícia, sempre tendo como alvo alguma pessoa. Tempos bons. Não se faz mais fofocagens como antigamente, e nem existem mais DIVAs pelas escolas por onde passei. Vantagem de cidade pequena, onde todo mundo se conhece e todos falam mal de todos, sem perder a amizade.

Polho al Polvo

Magnovaldo, lá dos Zistados Zunidos conhece bem esse típico prato boliviano, bastante servido nas cidades de Puerto Quijarro e Puerto Suarez, na fronteira entre o Brasil e a Bolívia, em Corumbá. Basicamente o prato é uma mistura de frango, cozido em água, o que deixa ele mais branco que bunda de escandinavas, jogam umas trapizongas dentro dele, umas folhas, sabe-se lá Deus de onde saíram e servem em cumbucas para os fregueses. Acontece que 99% das ruas dessas cidades não possuem calçamento. É uma terra branca e calcárea que dói as vistas em dias de sol quente. O freguês comendo essa gororoba à beira da rua, passa um carro, levanta aquele poeirão que vai tudo para o prato que está sendo servido. O resultado é uma mistura de água, com temperos boiando, frango cujo cozimento adequado é duvidoso, e aquela quantidade imensa de poeira no prato do comensal. Ah!, polho ao polvo significa literalmente “frango com poeira”.

TEROL

Estava eu em Ladário/MS – as más línguas dizem que é um bairro de Corumbá -, mas é um município autônomo rodeado pelo município de Corumbá por todos os lados. Lembro-me que era final de ano e fui passar uns dias na casa de meu amigo, irmão e cupincha Dorvanil Gomes. Como era fim de ano e ele tem uma banda musical que todas músicas das antigas, dançantes e apaixonadas, foi contratado para tocar em uma festa em uma das fazendas da região. Fui de reboque, obviamente. Passada a virada do ano, no almoço do dia primeiro de janeiro, estávamos na fila para o almoço quando ouvi a conversa de dois peões de origem paraguaia. Na língua arrevesada deles, um dizia a outro que deveria maneirar, porque o médico estava preocupado com o “terol” dele. Nessas bocagens vadias, meu ouvido fica igual a ouvido de tuberculoso, fino, ladino e maroto. E me peguei pensando que diabos era esse tal de terol. Depois de muita conversa entre os dois paraguaios fui entender que o médico de um deles estava preocupado porque ele estava com os níveis de colesterol muito alto. Deu de ombros e saiu atracado com uma ripa de costela com uns dois dedos de gordura. Que se dane o terol, pensei.

Tanabi

Tanabi foi um excelente professor de Matemática na escola em que trabalhei em Corumbá/MS. Encantou-se já a algum tempo. Homem sério e cioso de seu dever, daqueles professores das antigas, da época em que gostávamos de receber provas reproduzidas em memeográfo a álcool, coisa que a geração frouxa de hoje nem sabe o que é. Talvez ali foi meu primeiro contato com o mundo etílico. Certa vez, deixou a matriz para ser reproduzida e foi para a aula. Era prova bimestral. Eu, Altivo e Dirceu pegamos aquela matriz e desenhamos corações com flechas, flores e guirlandas. Feita a reprodução, entregue as provas ao mestre. Uns quarenta minutos depois ele voltou emputiferado da vida querendo saber quem foi o sacana que avacalhou a prova dele e que iria dar um tiro na cara do sujeito, se descobrisse. Finou-se sem nunca saber o que fizemos com a prova, mas ela ficou como assunto principal de toda a escola por uns dois meses.

2 pensou em “CAETICES III

  1. A D.I.V.A. virou X.A.N.D.E.E. = Xaropiador Aloprado Neutralizador da Direita Epistemológica Elegível .
    Sobre comidas bolivianas, gostava de Pique a lo Macho, Parrillada e Saltenha.
    Os dois primeiros pratos acompanhado de uma Paceña colocavam-me em perigo na volta para Guajará-Mirim porque os pilotos das voadeiras não queriam nem saber do estado etílico da gente.
    😂😂😂😂😂

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *