ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

Capitão Magnovaldo Santos, mandonista e chefe político de Pedreiras de Mato Dentro, criado e amamentado conhecendo toda a vasta tecnologia puteirista ficara muito zangado, soltando fumaça pelas ventas quando compararam o cabaré de Nhá Nacinha, casa semvergonhista de moça militante, mais afamada da região, com a Praça dos Três Poderes.

Obtemperava, a partir de soco na mesa, e fumarola de charuto que iria quebrar o chifre do safardana que garatujou aquelas invencionces.

– Filho de égua, safado! Então qualquer borra botas faria aquilo, trazendo enorme desfavor para Nhá Nacinha e suas moças de ofício, por causa de safadagem de outros? Era o que faltava. Então, um cristão batizado, crismado e confirmado não poderia mais gozar perna de moça, dedilhar seus fofinhos e besuntar o cangote de uma donzela de má fama que logo qualquer filho de égua de beira de estrada iria confundi-lo com um, deputado, um senador, ou um ministro e suas sujeiras nos desvão da capital federal.

Capitão Magnovaldo ia à loucura todas as vezes que lia em qualquer pasquim esse tipo de associação. Devocioneiro de São Lifôncio, jurou que iria arrebentar o chifre do safardana que pinchara tinta em papel marrom para denegrir a imagem de Pederneiras de Mato Dentro. Nunca, mas nunquinha mesmo iria permitiria aquele tipo de desrespeito.

Capitão Magnovaldo, desde pequeno tinha gênio estuovado. Crescera na fazenda de seu avô, no debaixo do capotão do velho e misturando seu grito de goela nova, com os mandos de dono de pasto e gado do coronel Segismundo Ferreira de Silveira Santos. Desde criança já mostrava pendores para o mundo da política e para a liderança de sua cidade. Certa vez, o coronel Segismundo, pegou o neto em delito semvergonhista no detrás das atafonas da fazenda. Recebeu reprimenda grossa, solavanco de orelha e dois dias em galé de quarto escuro. Depois disso sentenciou: vai para a cidade, aprender letra de padre e, quem sabe, ser doutor de lei, ou doutor de poções e sinapismos.

Desbocado desde cedo, altão de quase avariar as teias de aranhas da fazenda do seu avô, maluco por perna de moça, já rapazote adquiriu o hábito de frequentar casa de moça militante e fumar charuto de fina marca, desses de aromar dois quarteirões quando aceso. De letra de padre, Magnovaldo não queria nem sentir cheiro. Mas, gozava de alegria quando era chamado por Nhá Nacinha, com o argumento de que suas meninas estavam de fogareiro aceso, clamando sua presença.

Deseducado de boca, invencioneiro e linguarudo, padre Pereira, num dia desses de aula sentenciou: esse menino tem todo o sintoma do povo da política, Daria um bom sermonista, ou um deputado. Apesar de todos esses vaticínios, o que menos o capitão queria era saber de estudos. Para aprimorar sua pessoa resolveu montar barba. Vinha a calhar bem com a piaçava de fogo que cultivava na cabeça. Em viagem especial foi até o avô solicitar permissão para tal.

– Pois saiba o capitão – nessa época já era capitão da Guarda Nacional – que duas coisas de principal um homem deve ter: barba cerrada e voz grossa. Nada muito difícil, já que essas duas qualidades tinha de sobra.

Mas, a vida boa encerrou-se de maneira abrupta. Deus Nosso Senhor curou seu avô de uma vez por toda e levou o Coronel Segismundo para o céu dos anjos. E, então, Capitão Magnovaldo se tronou o mais ricoso, o mais desimpedido e o chefe político do burgo. E, com nova vida passou também a ser ouvido e solicitado emn pronta justiça em todos os acasos da cidade, seja em caso de briga na Câmara de vereadores, em casos de desdonzelismo de moça, ou em caso de roubo de moça, por alguém. Sempre que chegava esses tipos de caso, gambava o ladroísmo do acuasado, ria bastante e promovia o casamento. Era padrinho de muitas crianças da cidade. Padre Pereira, todo fechamento de ano era chamado para passar na água e no sal do batismo um magote de guris nascidos. Capitão Magnovaldo sempre era o padrinho e o protetor dos agregados de seus pastos, e nas adjacências.

Sua pessoa era a mais procurada e amais respeitada da cidade. De doutor de beberagens a desembargador de justiça vinham machucar soalho de sua casa para uma conversa de pé de ouvido. Apesar de respeitoso por fora, por dentro, o capitão era um samburá de safadagens e pilhéria. Tinha como amigo o dono da farmácia, que podia ser chamado mais de covil, do que farmácia. Teúda e manteúda nunca teve, mas todas as vezes que visitava a casa de Nhá Nacinha, saía feliz da vida, pimpão e mais alegre que pinto no lixo.

Quando a notícia garatujada em jornal comparou a capital federal com um cabaré foi a gota d’água. Sua pessoa apareceu na rua como um trem maluco. O charuto debruçado na varanda do beiço, tirava rolos e rolos de fumaça. Sua cabeleira vermelha, seu tipo altão que mais parecia uma palmeira deixava sua figura mais temerosa.

Entrou na prefeitura com a cara enfarruscada e foi tirar satisfação do prefeito. Figura miúda, quase cai da cadeira ao ver a pessoa do capitão. Disse uma coisa, disse outra, pediu desculpa, citou constituição, liberdade de expressão para fechar a rosca do discurso dizendo que nada podia fazer.

Capitão Magnovaldo saiu mais raivento ainda e se dirigiu ao j0ornal da cidade, abrindo a poder de sola de botina as portas de vai e vem da loja, perguntando onde estava o filhote de lobisomem que garatujara aquela invencionice em papel marrom. Escangalhou máquinas, desceu a gurungumba em mesas e mesinhas. Os funcionários do jornal, mais assustados que ratos buscaram asilar suas pessoas no debaixo da batina de padre Pereira, que era o confessor do capitão.

Findo esse justiçamento ancorou a sua pessoa na farmácia de seu amigo, bebendo uma cerveja e comendo um frango de especial preparo para ele. Já com as surucucus de seu cavername do peito menos zangadas passou a obtemperar seu justiçamento para o amigo.

– Eu sempre digo seu compadre. Casa de menina militante é coisa séria, é coisa de respeito. É igual coisa de religião e seu povo de batina. É preciso levar na maior seriedade na maior consideração os serviços prestados. Não se pode comparar algo tão importante com as safadagens e semvergonhismo que se pratica na capital federal. Onde já se viu, comparar um puteiro do mais alto respeito e da maior qualidade com a capital federal? Isso é uma falta de respeito com qualquer puteiro da nação.

E, depois, montou em seu tordilho, ciente de ter limpado a honra do puteiro de Nhá Nacinha a força de seu braço, voltou para a sua vida de dono de pastos e gados, já pensando nos fofinhos das meninas militantes do cabaré da cidade.

3 pensou em “CABARÉS

  1. Eita Roque, meu querido conterrâneo: esse seu Capitão se parece comigo? O nome é o mesmo e a revolta em ofender as gurias espertas é a mesma que tenho quando vejo que elas, que dão duro e levam duro, são rebaixadas à condição de vagabas de Brasilia. Acho que entendi bem sua estória.
    Tenha um final de semana cheio de saúde, paz e prosperidade, junto aos seus queridos. Um grande abraço deste seu discípulo.
    Magnovaldo Santos, sem o “Capitão”.

    • Magnovaldo. A pilhéria foi em sua homenagem mesmo, quando vi sua revolta e obtemperação ao ler que os gazeteiros haviam comparado Brasília a puteiro. Cabaré é coisa de respeito, organizado e com ética. Nada aver com as safadagem de Brasília mesmo. Tenha um bom fim de semana.

      • Eita, Roque, você é um cabra sacudido mesmo! Veja: nunca fui fã de putas, é claro, mas, moral e humanamente falando, eu as ponho em um pedestal muito mais alto do que essa corja de vagabas esquerdistas que hoje assolam o País.
        Um grande abraço,
        Magnovaldo

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