Advogados nem sempre são referidos elogiosamente, na literatura. Shakespeare, na pele do personagem Dick, O Açougueiro (em Henrique VI), dizia quando alguém falava sobre suas prioridades: “A primeira coisa a fazer é matar os advogados”. Na França do Antigo Regime, tampouco eram apreciados. François Rabelais, em Gargantua (pai de Pantagruel, só para lembrar), cita portal da Abadia dos Thelemitas: “Vós que explorais os autores e os réus/ Afastai-vos daqui, falsos juristas,/ Afastai-vos, livrando-nos assim/ Das demandas inúteis e sem fim”. Já Jess M. Braillier, em Lawyers and other reptiles, pergunta: “O que são 400 advogados, algemados, no fundo do Oceano Pacífico?” E ele mesmo responde, “Já é um começo”.
Em The New Yorker Book of Lawyer Cartoons vemos, num safari, advogados pulando sobre um carro. E o pai tranquiliza os filhos, dentro dele, “Mantenham as portas trancadas e permaneçam calmos”. Enquanto Millor (em Millor Definitivo) antecipa o Brasil de hoje, dizendo: “Grandes advogados conhecem muita jurisprudência. Advogados geniais conhecem muitos Juízes”. Sobretudo no Supremo. Para Clarence Darrow, maior advogado americano, “O problema com a lei são os advogados”. E o apresentador Jay Leno foi mais longe: “Você tem dois advogados e 14 senadores, numa sala, e diz que apenas um deles está mentindo?”
Mas prefiro caminhar em outro sentido nesse quase 11 de agosto, Dia do Advogado. E cito Dickens (A Loja de Antiguidades): “Se não houvesse gente ruim, não haveria bons advogados”. Ou Eduardo Couture (Los Mandamientos del Abogado): “A advocacia é uma árdua fadiga posta a serviço da Justiça”. Ou, ainda, lembro livro clássico de Calamandrei (Eles, os juízes, vistos por nós, os advogados), “Julga-se vulgarmente que a missão do advogado consiste em se fazer ouvir por juízes. Realmente, o ofício mais humano dos advogados é ouvir os clientes. Dar, às almas inquietas, o alívio de encontrar no mundo um confidente de suas inquietações”. Ou Ruy Barbosa, nessa referência para a advocacia que é Oração aos Moços, ao sugerir “Não ser baixo com os grandes, nem arrogante com os miseráveis”. Mas encerro essa espécie de Breviário com palavras de José Paulo Cavalcanti, meu pai, em discurso de paraninfo (1964): “Do advogado sobretudo importa dizer que ninguém vê tão de perto o homem, no seu trágico barro rareado de estrelas”.