ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

As discussões, no Brasil, sobre esquerdismo – progressismo, ativismo, socialismo, comunismo, ou qualquer outro nome que essa estrovenga venha a ter -, e o direitismo, ou conservadorismo, liberalismo, estão deslocadas no tempo e no espaço, justamente porque nos falta aquilo que Santayana sempre pregou: a falta de conhecimento histórico de nós mesmos, para se evitar repetir os erros do passado.

Na atualidade, o esquerdismo se tornou a grande realidade de nossa dinâmica política, social, cultural, religiosa, educacional, jurídica, institucional e relacional, em função da falta de aprendizado. Enquanto a esquerda leu e aprendeu com o seu passado – e não estou falando das roubalheiras mambembes do PT e sua gangue -, evitando cometer os mesmos erros e as mesmas visões filosóficas e metodológicas, a direita ainda está discutindo que a zebra é um cavalo branco pintado de listras pretas, ou um cavalo preto pintado de listras brancas, ou seja, discutindo sobre o nada e o inócuo.

O esquerdismo histórico e o direitismo histórico, na América Latina, e mais especificamente no Brasil, sempre tiveram premissas de ações diferentes, mas com um mesmo objetivo final. Enquanto o esquerdismo luta em nome de uma classe, pela sua libertação, tem como objetivo final o aprisionamento do homem na pobreza, pois é essa pobreza material, intelectual, moral e espiritual que fornece o combustível necessário para seus discursos e para as suas ações. O lutar pelos pobres, na dinâmica esquerdista é sempre para manter o pobre, cada vez mais pobre e dependente de “protetores”, de “pais”, de guardiões de sua pobreza.

No direitismo, a premissa possui sinal trocado. Parte-se do discurso, só do discurso da libertação do pobre, da sua emancipação, mas tem como objetivo final o mesmo do esquerdismo: manter o pobre na pobreza para que assim a sua riqueza possa ser exibida e a diferenciação de classe cada vez mais acentuada. Em outras palavras, na realidade brasileira e latino-americana, apesar do discurso ser diferente, o objetivo final é o mesmo em forma e conteúdo.

A diferença entre essas duas posições, mudaram no século XX e seus frutos começaram a ser colhidos no século XXI, mas apenas pela esquerda. No Brasil, entre a Intentona de 1935 e a tentativa de 1964, a esquerda acreditava na doutrina leninista/trotskista (termos relativos a Wladimir Lênin e Leon Trotsky, os cérebros da revolução russa), de revolução pelas armas e pela revolta do proletariado. Era uma visão romantizada, se não fosse pelos cadáveres no meio do caminho, quase que uma encenação de Otelo, no palco político, mas que deram com os burros n’água em função do primitivismo e elitismo da nossa sociedade.

A mudança, por sua vez ocorreu entre o fim da década de 1970 e o início da década de 1980 com a “lenta, gradual e segura distensão” do governo Geisel, quando os esquerdistas brasileiros abandonaram o credo da luta armada e fizeram genuflexão (para a minha querida Violante Pimentel) no altar do comunismo de Antônio Gramsci. É bem verdade que essa fórmula foi tentada por Salvador Allende no Chile, mas faltou para ele o que está sobrando no Brasil. Explico.

As “Cartas do Cárcere” de Gramsci ensinaram os novos esquerdistas a não fazerem a luta armada, pois eles iriam fracassar, por causa desse primitivismo social, principalmente na América latina. Gramsci ensinou o esquerdista a se infiltrar, a se agregar dentro do sistema. Sua lógica subvertia a doutrina leninista/trotskysta de subverter o sistema de fora para dentro, e apontava que o caminho era fazer essa subversão de dentro para fora, corroendo o sistema em seus sustentáculos. Esse foi o erro de Allende. Ele não tinha os agentes infiltrados dentro do sistema para poder subvertê-lo.

No Brasil ocorreu justamente o contrário. Quando os revolucionários de esquerda viram que não havia como aplicar a doutrina leninista/trotskysta à risca, abandonaram-na e se agregaram à doutrina gramsciana. Foi um processo lento, mas seguro de infiltração em todos os segmentos da sociedade. Universidades, escolas, sindicatos, setor cultural, igrejas, associação de moradores, entidades da sociedade civil como OAB, ABI, CNBB, Conselhos profissionais, e, mais especificamente as instituições públicas e governamentais.

Nessa dinâmica, o processo de doutrinação seguiu e está seguindo à risca os ensinamentos de Gramsci. As escolas e universidades, principalmente as públicas renunciaram à sua função de ensinar e de formar, pela doutrinação ideológica que produz excelentes peões de passeatas e agentes depredadores, mas cidadãos falhos, trabalhadores desqualificados e pessoas fúteis e vazias.

Na administração, infiltraram-se em todas as esferas do Poder – Legislativo, Executivo e Judiciário -, assumindo direções e funções chaves de poder que sempre trabalham para o progresso de nosso atraso, em todas as áreas. As mudanças nessas esferas começam a aparecer na atualidade, com a subversão de valores, a naturalização daquilo que não é natural, o aborto, a destruição da família, a negociação de valores que são inegociáveis, e por aí vai.

Foi um trabalho lento, árduo, mas extremamente eficaz no longo prazo. Pode-se dizer que o esquerdismo tinha e tem um projeto geracional que supera figuras políticas, ou mesmo líderes populistas. Seu objetivo vai além de uma única figura, ou de um único grupo, pois estão pensando no longo prazo.

Enquanto isso, a dita direita, que de direita só tem nome, pois não superou o primitivismo quase monárquico da realidade não possuem esse projeto. O único projeto da direita brasileira é de curto prazo. Manter o pobre cada vez mais pobre para poder legitimar a sua própria riqueza, esquecendo que a riqueza de um país não é mais monetizável, mas sim os cérebros e os talentos que fazem a diferença e que não estão reduzidos às suas classes.

Assim sendo, não existe uma visão de longo prazo, muito menos uma esperança de um debate de direita racional que coloque o país como prioridade, ou que supere essa visão primitiva de riqueza, ou de elite. Enquanto não se chega a esse estágio, a esquerda continua seu processo de corrosão da sociedade e de suas instituições, até chegar a seu objetivo final: o fim da liberdade.

4 pensou em “BRASIL, LÊNIN E GRAMSCI

  1. Aqui Roque Nunes expõe um pensamento claro como jamais vi: Em relação à pobreza, esquerda e direita agem da mesma forma, privilegiando o funcionalismo público e deixando o resto da população se lascar.

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