PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

Destes que campam no mundo
Sem ter engenho profundo,
e, entre gabos dos amigos,
os vemos em papa-figos
sem tempestade, nem vento:
Anjo Bento.

De quem com letras secretas
Tudo que alcança é por tretas,
baculejando sem pejo,
por matar o seu desejo,
desde a manhã té a tarde:
Deus me guarde.

Do que passeia farfante,
Muito prezado de amante
por fora luvas, galões,
insígnias, armas, bastões,
por dentro pão bolorento:
Anjo Bento.

Destes beatos fingidos,
cabisbaixos, encolhidos,
por dentro fatais maganos,
sendo nas caras uns Janos,
que fazem do vício alarde:
Deus me guarde.

Que vejamos teso andar,
quem mal sabe engatinhar,
meio inteiro e presumido,
ficando o outro abatido
com maior merecimento:
Anjo Bento.

Destes avaros mofinos,
que põem na mesa pepinos
de toda iguaria isenta,
com seu limão e pimenta,
porque diz que queima e arde:
Deus me guarde.

Que pregue um douto sermão
Um alarve, um asneirão,
e que esgrima ,em demasia
quem nunca lá na Sofia
soube por um argumento:
Anjo Bento.

Desse santo emascarado,
que fala do meu pecado,
e se tem por Santo Antônio,
mas em lutas com o demônio
se mostra sempre cobarde:
Deus me guarde.

Que atropelando a justiça
só com virtude postiça,
se premeie o delinquente,
castigando o inocente/
por um leve pensamento:
Anjo Bento.

Gregório de Matos, Salvador-BA, (1636-1696)

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