PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

Depois que dia a dia, aos poucos desmaiando,
Se foi a nuvem d’ouro ideal que eu vira erguida;
Depois que vi descer, baixar no céu da vida
Cada estrela e fiquei nas trevas laborando:

Depois que sobre o peito os braços apertando
Achei o vácuo só, e tive a luz sumida
Sem ver já onde olhar, e em todo vi perdida
A flor do meu jardim, que eu mais andei regando:

Retirei os meus pés da senda dos abrolhos,
Virei¬-me a outro céu, nem ergo já meus olhos
Senão à estrela ideal, que a luz d’amor contém…

Não temas pois — Oh vem! o céu é puro, e calma
E silenciosa a terra, e doce o mar, e a alma…
A alma! não a vês tu? mulher, mulher! oh vem!

Antero Tarquínio de Quental, Ponta Delgada, Portugal (1842-1891)

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