MARCELO BERTOLUCI - DANDO PITACOS

Desde Adam Smith muitos economistas tentaram desfazer os mitos sobre a chamada “balança comercial”, mas estes mitos ainda persistem. A razão é que eles são convenientes para defender o protecionismo.

É simples perceber que o protecionismo não aumenta a prosperidade nem beneficia a população de um país. Se prosperidade significa ter acesso a bens e serviços, é óbvio que quando o governo restringe o acesso a bens e serviços (essa é a definição de protecionismo) a população está sendo prejudicada.

O conceito de balança comercial vem do tempo em que os reis viam o país como sua propriedade, e as pessoas viam o rei como a personificação da nação. Neste contexto, o conceito faz sentido. O rei precisa pagar suas despesas, seu palácio, seus assessores e (principalmente) seu exército. Sem dinheiro, ele se tornaria um ex-rei rapidamente.

Assim, na mente do rei e de seus ministros, “país”, “governo” e “economia nacional” são sinônimos, e portanto é fácil concluir que a economia de um país deve ser organizada como uma empresa: visando lucro. Uma empresa lucra produzindo e vendendo bens, e fazendo com que a receita desta venda seja maior do que a despesa. Da mesma forma, o rei e seus ministros procuram vender o que foi produzido em “seu” país e deseja que a receita destas vendas seja a maior possível.

Nessa concepção, as pessoas que vivem no reino não são vistas como cidadãos, mas como operários. Eles não têm direito à sua própria vida ou à sua própria prosperidade. Sua função é produzir bens que serão tomados pelos funcionários do rei e vendidos para o exterior, para encher de moedas os baús do rei. País rico, nessa visão, é aquele que tem um rei rico, não aquele onde a população é rica.

Obviamente, se exportações são incentivadas para arrecadar mais, importações são indesejáveis porque implicariam em gastar o dinheiro recebido. Daí surge o conceito de que exportar muito e importar pouco significa “balança comercial favorável”, enquanto que o contrário é visto como um déficit “indesejável”.

Mas no conceito moderno de país, tudo isso não faz mais sentido. Os países de hoje não são mais propriedade particular de seus soberanos. Cada pessoa tem o direito de buscar a sua felicidade e a sua prosperidade através do trabalho, e prosperidade não é juntar dinheiro, prosperidade é obter as coisas que o dinheiro pode comprar. Ao restringir importações em nome do protecionismo ou da balança comercial, o que o governo faz é desvalorizar o trabalho das pessoas, roubando-lhes o poder de compra: se importações são proibidas, a lei da oferta e procura fará o preço das coisas aumentar, e o dinheiro comprará menos. Além disso, quanto mais exportações, menos sobra para o mercado interno, e o preço também sobe.

Se o povo como um todo é prejudicado, alguns poucos são beneficiados: são aqueles que são protegidos da concorrência e ganham maior liberdade para cobrar mais caro e até mesmo para ser ineficientes. É a força que esses poucos têm junto aos políticos que conserva vivo o conceito de balança comercial, que já deveria ter falecido de morte natural há séculos.

Uma nação não deve ter objetivos contábeis nem buscar superavit. Os objetivos de uma nação devem estar na escala humana, aumentando o poder de compra de seus cidadãos. Tratar o comércio realizado por pessoas e empresas como se fossem realizados por uma corporação gigante chamada estado não é apenas uma questão acadêmica. É uma política errada e economicamente destrutiva.

Baseado neste artigo de Donald Boudreaux. Clique aqui para ler.

Um comentário em “BALANÇA COMERCIAL

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