Editorial Gazeta do Povo
A condição natural inicial de todas as sociedades e nações é a pobreza. Até meados do século 17, a regra entre as sociedades organizadas em estados e nações era, em termos de renda média por habitante e padrão de vida, a pobreza para a grande maioria da população, ressalvados alguns grupos beneficiados com privilégios fora do alcance da imensa maioria. A criação das condições e dos bens e serviços capazes de construir as bases para elevar o padrão médio de bem-estar social é uma conquista dos últimos 300 anos, quando a humanidade conseguiu vencer o escasso desenvolvimento da ciência, da tecnologia e dos meios de produção, notadamente a infraestrutura física e empresarial.
Antes desse novo tempo, a humanidade enfrentava regularmente escassez de alimentos, mortes por doenças que hoje são facilmente tratáveis, elevada mortalidade infantil, baixa expectativa média de vida, jornadas de trabalho extenuantes e ausência de conforto material. Faz menos de 200 anos que as cidades começaram a deixar de ser imundas, fétidas, insalubres, pestilentas e focos de várias doenças, situação que perdurou até a substituição da carroça puxada por cavalos pelos veículos automotores e pelo trem de ferro. As lindas capitais europeias de hoje tinham suas avenidas e ruas tomadas por dejetos animais, insetos, lixo e sujeira de todo tipo, cuja consequência eram pestes e doenças públicas várias.
A Revolução Industrial, o progresso do conhecimento científico, as invenções e as tecnologias dos últimos três séculos propiciaram a possibilidade real de revolucionar os processos produtivos, aumentar a produtividade do trabalho e o Produto Interno Bruto (PIB) a níveis capazes de elevar o padrão médio de consumo e a melhoria das condições de bem-estar social. O conceito de subdesenvolvimento é produto da Revolução Industrial; é subdesenvolvido o país não conseguiu atingir o padrão de consumo e bem-estar social já alcançado por outras nações, estas consideradas desenvolvidas. A Organização das Nações Unidas (ONU) tem 193 Estados-membros, dos quais entre 35 e 40 são classificados como desenvolvidos e usados como referência para as nações que perseguem o progresso capaz de lhes dar indicadores compatíveis com a superação do subdesenvolvimento.
Isso posto, uma questão que intriga economistas e estudiosos sociais é a busca de explicação pela qual há nações ricas de recursos naturais que, apesar disso, não conseguem eliminar a miséria, reduzir o elevado número de pobres e resolver mazelas sociais como fome, falta de moradia, falta de água tratada e rede de esgoto, e baixo nível educacional. Brasil e Argentina são sempre citados como exemplos de nações com amplos territórios, terras férteis, clima favorável e abundante riqueza natural que, apesar de todas as condições favoráveis, seguem no atraso e na pobreza, sendo que a Argentina já esteve entre as nações mais ricas do mundo em renda por habitante e padrão médio de vida, e hoje caminha celeremente para elevado grau de pobreza.
Embora haja diagnósticos diferentes para a compreensão desse problema, cinco causas aparecem com frequência nos estudos e análises: 1. longo histórico de maus governos, com castas de políticos e burocratas incompetentes e corruptos; 2. alta deficiência qualitativa da educação; 3. precária infraestrutura física (energia, transportes, telecomunicações, portos, aeroportos, sistema urbano de circulação); 4. ambiente institucional e jurídico inibidor do investimento e do espírito de iniciativa; 5. setor estatal inchado, caro e ineficiente, configurando pesado ônus sobre os ombros das pessoas, empresas e processos produtivos privados.
Infelizmente, o Brasil já abusou demais do desperdício de tempo e, considerando o envelhecimento da população e a perda do bônus demográfico, não há mais muito tempo que possa ser perdido, sob pena de jamais tornar-se um país desenvolvido. Apesar disso, a última eleição talvez tenha sido o pleito eleitoral mais precário dos últimos tempos quanto à clareza, por parte dos candidatos, de quais eram suas ideias para a sociedade. A chapa vencedora do pleito presidencial nem mesmo chegou a protocolar plano de governo detalhado. A formação de expectativa econômica no plano nacional tornou-se exercício ao acaso, pois não há elementos de certeza razoável necessários para profecias minimamente críveis. Os primeiros dias do novo governo já demonstraram para onde Lula e o PT querem levar o país, dando marcha a ré em avanços importantes como marcos regulatórios, reforma da Previdência e reforma trabalhista, e apresentando um pacote de contenção do déficit que aposta fortemente no aumento da arrecadação, com minúsculos cortes de gastos. No entanto, ainda é preciso saber que tamanho terá a base aliada no Congresso e se ela será capaz de concretizar ou de barrar os planos petistas. Enquanto isso, expectativas econômicas sérias e bem embasadas estão na coluna de “suspenso”.
Uma análise bem rápida naquilo que o colunista chamou de “riquezas”. Na verdade, não são riquezas. São recursos potenciais. solo fértil, potencial energético abundante, gás, petróleo, recursos extrativistas, água. Nada disso é riqueza. O conceito de riqueza evoluiu, também nos últimos 300 anos. Riqueza é conhecimento e capacidade técnica de usar os recursos potenciais e transformá-los em um bem útil à sociedade. Neste caso, riqueza são os cérebros, a criatividade, a capacidade de inovar. E esse tipo de riqueza somente um processo educativo claro, objetivo, moderno, eficaz e articulado com as evoluções do mundo podem trazer pra uma nação. Não é o caso de Pindorama, onde ainda se investe nas sandices ditas por Paulo Freire, joga-se dinheiro fora e se acredita que dinheiro cresce por geração espontânea. Veja-se o caso do IDEB – índice que mede a evolução da qualidade na Educação Básica. Em 1985, ano em que a primeira verificação foi feita, esse índice estava em 4.3, uma média geral. Na última mensuração, de 2020 o índice elevou-se para 4,7. Em 35 anos subiu apenas 0.4 pontos. Agora imaginem o quanto de dinheiro da sociedade foi gasto nesses 35 anos na rubrica educação e se compare com a elevação desse aumento do índice. Se a nossa sociedade souber o valor desperdiçado todos os governos: federal, estadual e municipal, com seus gestores e funcionários públicos seriam enforcados e pendurados pelos calcanhares em praça pública. O Brasil não investe em cérebros, em talentos, em pessoas. É mais fácil e perdulário pintar muro de escola do que favorecer a criação de um ambiente estimulador e competitivo na sala de aula para a descoberta desses talentos e o investimento neles. Esse é o nosso ponto fraco como sociedade. Sem cérebros, sem talentos podemos estar boiando em reservas de recursos do tamanho do Pacífico. Nada transformará esses recursos em riqueza, em melhoria da qualidade de vida para ninguém.
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Meu caro Roque,
Você está cada dia mais genial.
Sou seu fã!