As minhas mãos magritas, afiladas,
Tão brancas como a água da nascente,
Lembram pálidas rosas entornadas
Dum regaço de Infanta do Oriente.
Mãos de ninfa, de fada, de vidente,
Pobrezinhas em sedas enroladas,
Virgens mortas em luz amortalhadas
Pelas próprias mãos de oiro do sol-poente.
Magras e brancas… Foram assim feitas…
Mãos de enjeitada porque tu me enjeitas…
Tão doces que elas são! Tão a meu gosto!
Pra que as quero eu – Deus! – Pra que as quero eu?!
Ó minhas mãos, aonde está o céu?
…Aonde estão as linhas do teu rosto?
Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)
A foto que estampa Florbela logo acima mostram parte da mão esquerda da rapariga.
Realmente são brancas, pequenas e por consequência de aparência delicada.
Mas o soneto não serve apenas para exaltar as qualidades de suas mãos.
No final faz uma figura dúbia; de quem seria o rosto que ela procura acariciar, de Deus?
Mas Deus não enjeita ninguém. Tampouco Florbela era devota ou digna de acariciar o rosto do Divino.
Seu objetivo do uso das mãos era outro.