PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

Hora sagrada dum entardecer
De Outono, à beira-mar, cor de safira,
Soa no ar uma invisível lira …
O sol é um doente a enlanguescer …

A vaga estende os braços a suster,
Numa dor de revolta cheia de ira,
A doirada cabeça que delira
Num último suspiro, a estremecer!

O sol morreu … e veste luto o mar …
E eu vejo a urna de oiro, a balouçar,
À flor das ondas, num lençol de espuma.

As minhas Ilusões, doce tesoiro,
Também as vi levar em urna de oiro,
No mar da Vida, assim … uma por uma …

Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)

Um comentário em “AS MINHAS ILUSÕES – Florbela Espanca

  1. Florbela gostava do entardecer, hora sagrada para ela.

    Lá, ao contrário daqui em terras tupiniquins o sol se põe sob o mar, ao oeste.

    Aqui também se põe ao oeste (ó novidade), porém ao nosso oeste está o continente.

    Ela transfigura sua dor e suas ilusões aos últimos raios do sol.

    Uma forma linda de lamentar pelo seu passado.

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