JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

“Vestida de azul e branco
Trazendo um sorriso franco
No rostinho encantador

Minha linda normalista
Rapidamente conquista
Meu coração sem amor

Eu que trazia fechado
Dentro do peito guardado
Meu coração sofredor

Estou bastante inclinado
A entregá-lo ao cuidado
Daquele brotinho em flor

Mas a normalista linda
Não pode casar ainda
Só depois que se formar

Eu estou apaixonado
O pai da moça é zangado
E o remédio é esperar”

Nelson Gonçalves

As normalistas vestindo saias plissadas

Chovia forte. Chuva forte que, em vez de cair na vertical, tangida pelo vento também forte, num milagre operado pela Natureza, quase caía na horizontal. Algo digno do que hoje rotulam de ciclone. Para o sertanejo nascido, criado e vivido na roça, aquilo nada mais era que uma “chuvinha metida a besta”.

Os ainda poucos relógios “nas munhecas” dos homens mais abastados, já marcavam mais de onze horas, e os ponteiros, um atrás do outro, corriam céleres para se encontrarem ao meio-dia, e ficarem um sobre o outro naquele papai-e-mamãe tão desejado, bom e por isso muito praticado.

Chuva forte e vento diminuíram, provavelmente por interferência divina. A chuva virou neblina (“leblina” para o sertanejo) e voltou à posição normal. Vertical.

A tarde chegou. O movimento na Praça Figueira de Melo aumentou com a chegada das meninas para as aulas na Escola Normal, onde a conclusão garantia o título de “Professora” e habilitava para o ensino às demais iniciantes.

No Liceu do Ceará, os meninos aprontavam no expediente matutino, perturbando moradores da Rua Liberato Barroso e cobradores e motoristas da linha Jacarecanga. No expediente vespertino as meninas da Escola Normal não faziam diferente – só que o objetivo era “provocar” os mais maduros, com uma sentada nos bancos da Praça do Ferreira e pernas mal postas, ou, ainda, com uma rápida de pretensiosa passada na calçada do Cine São Luiz, principalmente se o vento estivesse açoitando mais forte.

O vento forte levantava as saias plissadas e mostravam pernas roliças, bonitas naturalmente (ainda não existiam as “academias”), sem o benefício da depilação, que nenhuma ousa desperdiçar nos dias atuais.
E os mais maduros rogavam à Deus: “Senhor, fale com São Pedro para parar a chuva e deixar apenas o vento agindo”.

A clássica saia plissada das escolas

Hoje, nossas esposas, tão maduras quanto nós, nas horas de devaneios dos fins de tardes nas calçadas defronte as casas, perguntam: “o que vocês faziam tanto em grupos na frente do Cine São Luiz”?

Ao que respondíamos: “Nada. Apenas pegando um ventinho!”

Na verdade, aquilo explicava nossa preferência exagerada pela cena clássica do filme “O PECADO MORA AO LADO”M, em que Marilin Monroe é “surpreendida” pela força do vento e “despretensiosamente” mostra as brancas e belas coxas. Tudo por conta da sorte do figurinista William Travilla, que apresentou aos cinéfilos e alhures a saia plissada.

2 pensou em “AS MENINAS DAS SAIAS PLISSADAS

  1. Gosto muito essa musica, bem como outras cantadas por Nelson….antigamente, mesmo os mais incultos compositores colocavam em suas letras alguma mensagem, tinham preocupação com o vernáculo…hoje, que tristeza… por isso as antigas ainda nos comovem e ficam eternas.
    inté!

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