Neste mundo é mais rico o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa;
Com sua língua, ao nobre o vil decepa:
O velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.
A flor baixa se inculca por tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa,
Mais isento se mostra o que mais chupa.
Para a tropa do trapo vazo a tripa
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.
Gregório de Matos, Salvador-BA, (1636-1696)
Gregório faz, num jogo de palavras, uma crítica à sociedade de seu tempo.
Caro João! Se analisar bem, cada vírgula que ele escreveu naquele tempo vale plenamente para os dias atuais!!!
Caro Sérgio.
Se for analisar filosoficamente, a sociedade pouco mudou desde a época dos Faraós do Egito.
Não sei quanto a vocês, mas o verso “o velhaco maior sempre tem capa” me fez pensar em certas onze almas; inclusive uma delas é careca.