JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Ruth Guimarães Botelho nasceu em 13/6/1920, em Cachoeira Paulista, SP. Escritora, poeta, cronista, professora, jornalista. teatróloga, folclorista e tradutora. Foi a primeira escritora brasileira negra a projetar-se em âmbito nacional com seu romance Água Funda, publicado em 1946 pela Editora Globo. O livro retrata aspectos da vida rural e o universo caipira do Vale do Paraíba Paulista e mineiro.

Filha de Maria Botelho e Christino Guimarães, concluiu os primeiros estudos em sua cidade natal e o curso Normal em Guaratinguetá. Morando com os avós maternos em Cachoeira Paulista, aos 10 anos publicou os primeiros versos nos jornais A Região e A Notícia. Em 1938 mudou-se para São Paulo, levando três irmãos menores que acabou de criar. Frequentou a famosa Farmácia Baruel, do farmacêutico e escritor mineiro Amadeu de Queiroz, travando contato com escritores da época, como os irmãos Amado, Jorge e James, Mário da Silva Brito, Jamil Almansur Haddad, Mário Donato entre outros. No início da década de 1940 conheceu Mário de Andrade, que orientou sua pesquisa sobre o diabo e suas manifestações no imaginário popular.

Sua carreira se consolidou com o segundo livro – Os Filhos do Medo -, publicado também pela Editora Globo em 1950. Tal livro rendeu-lhe um verbete na Encyclopédie Française de la Pléiade, tornando-a a única escritora latino-americana a merecer tal distinção. A partir desse livro, teve atuação destacada na pesquisa da literatura oral no Brasil e no conhecimento da cultura caipira. Foi uma das primeiras alunas do curso de Letras Clássicas da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP; teve aulas com os professores Roger Bastide, Fidelino de Figueiredo, Silveira Bueno e Antonio Soares Amora, entre outros.

No início da década de 1960 frequentou a EAD-Escola de Arte Dramática da USP, especializando-se em Dramaturgia e Crítica. Trabalhou em algumas editoras como revisora e tradutora e publicou crônicas, artigos e crítica literária em jornais e revistas de São Paulo, Rio de Janeiro e Lisboa. Foi repórter das revistas Noite Ilustrada, Quatro Rodas, Realidade, Carioca e Globo. Como professora, lecionou francês na Aliança Francesa de São Paulo; grego na Universidade de Taubaté; Psicologia da Arte e Literatura nas Faculdades Integradas Teresa D’Ávila, em Lorena e Literatura na Faculdade de Ciências e Letras de Cruzeiro.

Passou anos pesquisando a medicina popular, as ervas, raízes e simpatias curativas, com a intenção de publicar uma enciclopédia em 12 volumes sobre medicina natural, que não chegou a ser concluída (os filhos estão completando esse trabalho). Seu legado é composto por mais de 50 livros, incluindo traduções do francês, italiano e latim. Ativa também fora da literatura, fundou o Museu de Folclore Valdomiro Silveira e a Guarda Mirim de Cachoeira Paulista. Participou da Sociedade Paulista de Escritores e da Associação Brasileira de Escritores (as duas entidades que se fundiram em 1958 para formar a UBE-União Brasileira de Escritores) e do Centro de Pesquisas Folclóricas Mário de Andrade. Foi membro da Comissão Estadual do Folclore, ao lado de Inezita Barroso, Oneyda Alvarenga e Rossini Tavares de Lima. Foi uma das fundadoras do IEV-Instituto de Estudos Valeparaibanos, que lhe concedeu o Prêmio Cultural Eugênia Sereno.

Na sua cidade natal, Cachoeira Paulista, fundou em 1972 a primeira academia de letras do Vale do Paraíba, a Academia Cachoeirense de Letras (hoje Academia Cachoeirense de Letras e Artes). Em 2008, eleita para a Academia Paulista de Letras, ocupou a cadeira 22, que foi de Guilherme de Almeida. Às vésperas de completar 89 anos, foi convidada pelo prefeito Fabiano Vieira para assumir a pasta da Cultura. Foi seu último cargo público e veio a falecer em 21/5/2014, aos 94 anos. Em 2019 foi criado em Cachoeira Paulista o Instituto Ruth Guimarães, um espaço cultural que mantém suas obras e memória.

Segundo seu filho, Joaquim Maria Botelho, jornalista e ex-presidente da UBE-União Brasileira de Escritores, no prefácio do livro Crônicas Valeparaibanas, “Ela gostaria de ter tempo para se dedicar à bruxaria… Ruth vive sem tempo, mas já é uma bruxa – a bruxa boa que o folclore valeparaibano representa nas suas histórias como a simpática velhinha que ensina o caminho às almas perdidas, que destrói com artimanhas geniais os monstros para deixar passar os príncipes que vão, por sua vez, salvar as princesas transformadas em rãs e as donzelas amaldiçoadas pelas feiticeiras malvadas. É assim que a Ruth quer continuar vivendo neste Vale do Paraíba que ela conta e reconta nos seus escritos deliciosos, pesquisados com o carinho de quem garimpa brilhantes. Na sua calma de cachoeirense, Ruth vem abrindo a alma, há 86 anos, para ser o relicário vivo das informações e da cultura valeparaibanas…”

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    • Pois é Miriam, Dona Ruth, para mim, não é desconhecida. É a mãe de Joaquim, ex-presidente da UBE. Cheguei a conhecê-la pessoalmente.

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