Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga nasceu no Rio de Janeiro, em 29/7/1846. Filha de Dom Pedro II e Teresa Cristina, governou o Brasil em três ocasiões, enquanto o pai viajava pelo mundo. Estava sendo preparada para reger o País, com a morte dos dois irmãos em 1847 e 1850. Na terceira vez (1888) em que ocupou a trono, proclamou a Lei Áurea, livrando o Brasil da condição de ser o único pais do mundo ocidental a manter o sistema escravocrata.
Aos 4 nos foi proclamada sucessora do pai, e aos 14 prestou juramento como herdeira do trono. Aprendeu a ler e escrever aos 8 anos e passou a necessitar de um “aio” (tutor). Luisa Margarida de Barros, a Condessa de Barral, foi a escolhida por Dom Pedro, em 1856. Sua “aia” tinha 40 anos, era charmosa, vivaz e logo conquistou-a, tornado-se um modelo para a jovem princesa. Junto com sua irmã Lepoldina, teve uma educação ampla, democrática e rigorosa. Estudavam de 8 a 9 horas por dia línguas, história, química, geografia, dança e piano. Na fase adulta, era fluente em francês, inglês e alemão. Um dos legados que ela herdou foi a “falta de racismo”. Tanto o pai como a mãe eram desprovidos do preconceito de cor e a “raça” nunca teve papel preponderante em sua vida social ou relações políticas. Conta-se que no baile imperial, na Ilha Fiscal, em 9/11/1889, seu amigo André Rebouças foi recusado por uma dama convidada para dançar. Observando o constrangimento de toda a Corte Imperial, D. Pedro II pediu à Princesa Isabel para intervir. Ela caminhou altiva pelo meio do salão sob o olhar estarrecido da plateia e pegou o “Negão” pra dançar.
Em 1864 a família real passou a procurar um marido para a filha na casa real francesa e encontraram Gastão de Orléans, o Conde d’Eu, filho do Duque de Nemours. O casamento se deu em 15/10/1864, numa grande festa no Largo de Paço, aberta ao público. O casal ficou instalado no atual palácio Guanabara e passou a promover concorridos saraus culturais visando melhorar a vida social do Rio de Janeiro. Em 1871, quando assume e regência do Império, promulgou a Lei do Ventre Livre. A partir dai, o recém-nascido negro não será mais escravo. Assim, tem inicio a oposição ferrenha que ela passou a sofrer dos senhores de engenho e da elite escravocrata.
Tal oposição foi intensificada a partir de 1876 com a segunda regência. Os grupos republicanos, positivistas e anticlericais promoveram uma campanha de detração da Princesa e de seu marido. Fêz-se de tudo para impedir que o casal mais tarde subisse ao trono. Em certos circulos dizia-se que “precisamos fazer a república enquanto o velho está vivo, senão a filha dará cabo de nós”. De qualquer modo, o movimento abolicionista tomou corpo, sendo que em algumas províncias, como São Paulo, quase já não haviam escravos. Pará, Amazonas e Ceará haviam libertado os escravos desde 1884. A oposição, segundo alguns historiadores, foi reforçada devido ao fato dela ter planos de implantar uma espécie de reforma agrária distribuindo terras aos negros para que dela tirassem seu sustento. Em 1888, na 3ª Regência, ela provocou a queda do gabinete Cotegipe e promoveu João Alfredo Corrêa de Oliveira à presidência do Conselho Imperial para conseguir seu intento.
A Lei Áurea foi votada e teve sua asssinatura, em 13/5/1888. O Conde d”Eu hesitou: ”Não assine. Isto será o fim da monarquia”. Mas, ela foi firme: “Se não o fizer agora, talvez nunca mais tenhamos uma oportunidade tão propícia. O negro precisa de liberdade, assim como eu preciso satisfazer ao nosso Papa e nivelar o Brasil, moral e socialmente aos demais países civilizados”. No dia da aclamação, ela assistia a grande festa do povo em frente ao palácio. Na sacada, junto ao barão de Cotegipe, perguntou-lhe: “Então, Senhor Barão, o que V.Excia. acha da lei que acabo de assinar?” A resposta foi sincera: “Redimistes, sim, Alteza, uma raça, mas perdestes vosso trono”.
Dom Pedro em Milão, doente, recebeu a notícia em 22 de maio e mandou passar-lhe um telegrama: ”Princesa Imperial. Grande satisfação para meu coração e graças a Deus pela abolição da escravidão. Feliciitação para todos vós e todos os brasileiros”. O Papa Leão XIII enviou-lhe a “Rosa de Ouro”, a maior distinção que os Pontífices davam aos chefes de Estado. A comenda foi festejada com toda magnificência na capela imperial, em 28/9/1888, comandada pelo Núncio Apostólico. Enquanto isso, a campanha contra a monarquia se agigantava, agora atacando o ‘velho gagá”, e espalhando o boato que a “Princesa e o Conde d’Eu vão se tornar tiranos aqui” e outras calúnias. O estopim que provocou o golpe, ocasionando a proclamação da República, foi o fato de D Pedro ter dito, dois meses antes, a alguns amigos que abdicaria no dia de seu aniversário, em 2 de dezembro, e passaria o trono para a Princesa Isabel.
Em 15/11/1888, os militares no Rio de Janeiro, representando 1/3 do Exército, tendo o Marechal Deodoro da Fonseca à frente, proclamaram a República num golpe de estado, A familia imperial foi embarcada na calada da noite, rumo ao exílio, evitando, assim, alguma reação popular. Dom Pedro II faleceu em 4/12/1891, em Paris e foi sepultado com honras de Chefe de Estado. A Princesa Isabel e o marido foram morar num bairro elegante da cidade e passou a levar uma “vida de rainha”, tal seu prestigio junto aos franceses. Ficou amiga de Santos Dumont, que por lá fazia seus experimentos aeronáuticos. Recebeu e ajudou diversos políticos brasileiros dando conselhos na solução dos problemas nacionais.
Durante o periodo em que viveu em Paris até seu falecimento, em 14/11/1921, representou o Brasil na França no melhor estilo. Aqui, o presidente Epitáio Pessoa decretou 3 dias de luto nacional. Em 1953 seu corpo foi transladado para o Brasil e em 13/5/1971, ela e o marido foram transferidos para o Mausoléu da Catedtral de Petrópolis, onde se encontram sepultados. Entre suas biografias, vale citar: Isabel, a redentora dos escravos, de Robert Daibert Jr.; A história de Isabel (2015), de Regina Echeverria; Princesa Isabel do Brasil (2005), de Roderick j. Barman; Castelo de papel: uma história de Isabel de Bragança, princesa imperial do Brasil e Gastão de Orléans, conde d’Eu (2013), de Mary del Priore.
Saiba mais sobre a Princesa Isabel através do Instituo Cultural D. Isabel no site www.idisabel.org.br