JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Niomar Moniz Sodré Bittencourt nasceu em 4/9/1916, em Salvador, BA. Escritora, jornalista, empresária, mecenas e proprietária do Correio da Manhã (1901-1974), um dos jornais mais importantes nas décadas de 1950-60. Pretendeu e conseguiu fazer do MAM-Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro a “obra de sua vida”, conforme declarou Lucio Costa.

Filha de Maria de Teive Argollo e do deputado Antonio Moniz Sodré de Aragão. Estudou breve período no Colégio Sacré Couer de Jesus, de onde foi expulsa por não se adaptar às rígidas normas da escola. O estopim se deu com o fato de se recusar a tomar banho de camisola. Em seguida foi estudar Colégio Sion do Rio de Janeiro, menos rígido, porém ainda inadequado para o temperamento da moça que o deixou antes de graduar-se.

Desde jovem começou a escrever novelas, contos e crônicas, colaborando mais tarde em jornais e revistas: A Noite, Vamos Ler, Carioca. Aos 15 anos apaixonou-se pelo primo e manteve o namoro em segredo até o dia em que o pai flagrou o casal. Deu-se o maior “barraco”; o velho danou-se e expulsou o rapaz de casa. No outro dia ela fugiu indo morar num hotel. Mandou avisar o pai que só voltaria se fosse para casar com o primo. Teve que esperar até completar 16 anos, a idade permitida, e casou-se em 1932 com o primo Hélio Moniz Sodré Pereira. Viveu com ele até princípios da década de 1940 e separou-se. Pouco depois casou-se com o jornalista Paulo Bittencourt, dono do Correio da Manhã.

Passou a se interessar por artes plásticas e tornou-se uma grande colecionadora de obras de arte. Era amiga do empresário Raymundo Ottoni de Castro Maia e da escultora Maria Martins, junto aos quais engajou-se na criação do MAM-Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, inaugurado em 1948. Durante 10 anos ocupou sua diretoria e projetou a sede atual no Aterro do Flamengo. Depois ficou como presidente de honra, membro do conselho deliberativo, do comitê internacional e dos comitês de exposição, aquisição e doação no Brasil e no exterior. Segundo Lucio Costa, ao assumir a direção do Museu, deliberou fazer dele a obra de sua vida. Projetou o MAM no cenário internacional.

Com a morte do marido, em 1963, assumiu a direção do Correio da Manhã até 1969, quando foi presa, processada devido ao posicionamento político do jornal e teve os direitos políticos cassados pelo AI-5 por 10 anos. Apesar do apoio dado ao Golpe Militar de 1964, passou a criticar logo em seguida o regime ditatorial, denunciando casos de tortura entre os presos políticos. Em fins de 1985 foi homenageada com um almoço no MAM, onde o então presidente José Sarney discursou e se desculpou em nome do governo brasileiro, pelas perseguições políticas, junto com seu jornal, no período do regime militar. O jornal sofreu algumas pressões econômicas e políticas, que forçaram sua transferência a um grupo empresarial que modificou a linha editorial e posicionamento político.

Como decorrência do endividamento dos arrendatários, ela recusou-se a retomar o jornal antes que expirasse o prazo do contrato. Assim, foi decretada a falência do jornal, que deixou de circular em 1974. No mesmo ano mudou-se para Paris, onde viveu 10 anos, retornando ao Brasil em 1984. Em seguida participou do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro e da ABI-Associação Brasileira de Imprensa, representando-a na Conferência de Chapultepec, no México. Como uma das fundadoras do MAM, representou o Brasil na Bienal de Veneza. Em 1993 foi diagnosticada como portadora do Mal de Alzheimer e faleceu em 31/10/2003.

Não contamos ainda com uma sua biografia publicada em livro, mas temos um trabalho biográfico consistente na forma de uma dissertação de mestrado – De coadjuvantes a protagonistas: a trajetória de três mulheres que trocaram os salões de sociedade pelo controle de grandes jornais brasileiros nas décadas de 50 e 60 apresentada por Flávia Bessone na PUC/Rio, em 2001. A parte referente a Niomar foi publicada na Internet, que pode ser acessada clicando aqui.

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