JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Maria Escolástica da Conceição Nazaré nasceu em Salvador, BA, em 10/2/1894. Mãe-de-santo (Iyalorixá) mais conhecida do Brasil. Descendente de escravos africanos da Nigéria, foi designada ainda criança para comandar o Terreiro do Gantois, fundado em 1849 por sua bisavó Maria Julia da Conceição. Cultuada em Salvador, Jorge Amado disse: “A mais doce das criaturas, a mais nobre das senhoras, a mais bela das Oxuns, a mãe da bondade”. Dorival Caymmi também não deixou por menos e cantou: “a estrela mais linda, o sol mais brilhante, a beleza do mundo, a mão da doçura, o consolo da gente, a Oxum mais bonita”.

O Terreiro do Gantois foi tombado como patrimônio histórico pelo IPHAN em 2002 e está localizado no alto do bairro Federação, em Salvador. Trata-se de um terreno arrendado de uma família de traficantes de escravos de origem belga e mantém a tradição do matriarcado, com dirigentes femininas, sucessão hereditária e linhagem consanguínea. Mãe Menininha foi a 4ª Iyalorixá na cadeia sucessória, empossada aos 28 anos, em 18/2/1922. “Quando os orixás me escolhera eu não recusei, mas balancei muito para aceitar”. Na época era casada com o advogado Álvaro MacDowell de Oliveira e teve 2 filhas, ambas iniciadas desde cedo, conforme a tradição da Casa. Sua história confunde-se com a história do candomblé na Bahia. Falava o idioma ioruba e detinha o conhecimento das línguas jeje e bantu, conferindo-lhe o domínio de orações, cantigas e poemas de cunho litúrgico.

Na época a perseguição da polícia aos cultos africanos era implacável e foi arrefecendo a partir da década de 1930. Porém ainda restava uma Lei de Jogos e Costumes condicionando a realização de cultos à autorização policial e limitação de término às 22 horas. Ela foi uma das principais articuladoras contra tais proibições e restrições. Dizia ao Delegado: “Isso é uma tradição ancestral, doutor. Venha dar uma olhadinha o senhor também”. A Lei foi extinta em meados da década de 1970. Bem antes disso ela abriu as portas do Gantois aos brancos e católicos. Conforme o Prof. Cid Teixeira, da UFBA, ela “como um bispo progressista da Igreja Católica, modernizou o candomblé sem permitir que ele se transformasse num espetáculo para turistas”. Com sua diplomacia conquistou adeptos importantes e seu legado maior foi imprimir respeitabilidade à sua religião.

No período em que foi sacerdotisa, o Terreiro recebia com frequência diversas autoridades, políticos e artistas em busca conselhos e orientações. Por outro lado, nunca deixou de frequentar a missa aos domingos e convenceu os bispos da Bahia a permitir a entrada nas igrejas de mulheres vestidas com as roupas tradicionais do candomblé. Indagada sobre o sincretismo religioso, respondia com simplicidade: “Deus? O mesmo Deus da Igreja é o do candomblé. A África conhece o nosso Deus tanto quanto nós, com o nome de Olorum. A morada Dele é lá em cima, e a nossa cá embaixo”,

Junto a direção do Terreiro, acumulava outros cargos, como Presidente de Honra, orientadora e fundadora da UBEPCA-União Brasileira dos Estudos e Preservação dos Cultos Africanos e Presidente da Sociedade Gueledé. Foi homenageada em diversas ocasiões: Comenda da Ordem das Artes e das Letras, do Ministério da Cultura da França; Comenda Sic Illa ad Arcam Reversa Est – Medalha 2 de Julho (Independência e Liberdade Sempre/1823); Comenda Legião do Mérito Presidente Antônio Carlos e a Comenda Regente Feijó entre outras.

Tal como todas as mães-de-santo, ela fazia questão de manter o Terreiro como uma casa de caridade e mantinha seu próprio sustento sem nunca cobrar pelos serviços prestados. Mantinha tabuleiro de frutas na rua, quitanda, dona de restaurante, além de costureira e doceira. Após dirigir o Terreiro por 64 anos, faleceu em 13/8/1986 e os filhos deixaram seu quarto intacto, com os objetos de uso pessoal e ritualísticos e mobiliário. Em 1992, o aposento foi transforado em “Memorial Mãe Menininha”, tornando-se uma das atrações do Terreiro e um espaço de educação patrimonial. Conta com mais de 500 peças referentes à história, cujo acervo foi arrolado e documentado em livro bilíngue, publicado em 2010.

No carnaval de 1976 foi homenageada pela Escola de Samba Mocidade Alegre de Padre Miguel, com o enredo “Mãe Menininha do Gantois”, onde esteve presente, apesar da idade. Em 2017, no carnaval paulista, A Escola de Samba Vai-Vai, apresentou o enredo “No Xirê do Anhembi, a Oxum mais bonita surgiu… Menininha, mãe da Bahia – Ialorixá do Brasil”. Em 2006 foi publicado o livro Mãe Menininha do Gantois: uma biografia pela Editora Corrupio. Foi um trabalho de pesquisa, coordenado por Cida Nóbrega e Regina Echeveria, que levou 6 anos recolhendo depoimentos de amigos, colaboradores e reunindo reportagens, artigos e livros escritos sobre o Gantois e Mãe Menininha. Atualmente o Terreiro do Gantois é comandado pela Mãe Carmen, sua filha de sangue mais jovem.

4 pensou em “AS BRASILEIRAS: Mãe Menininha do Gantois

  1. Ah, minha mãe, minha mãe Menininha
    Ah, minha mãe, minha mãe Menininha do Gantois

    A beleza do mundo êh, tá no Gantois…..

    o Meu saravá a esta figura magnífica que deve ser venerada por todos os que a conheceram

    Belíssimo domingo a todos

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