JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Luísa Mahin nasceu em fins do século XVIII na Costa da Mina, África, ou Salvador, BA. Sua existência histórica é controversa, porém existem documentos comprovando que foi uma ex-escrava alforriada em 1812 e que teve participação ativa na Revolta dos Malês (1835) e na Sabinada (1837). A história conta que sua banca de quitutes era um ponto de informações sigilosas dos revoltosos e sua casa foi transformada em quartel general destas revoltas.

O único registro existente sobre sua vida é uma carta de 1880, escrita por Luís Gama e enviada ao jornalista Lúcio de Mendonça, onde o abolicionista afirma que Luísa Mahin foi sua mãe. No entanto, alguns historiadores não descartam a hipótese que ela tenha sido uma espécie de alter ego dele, também ex-escravo tornado escritor e poeta. O fato é que ela se tornou um mito na história da escravidão brasileira, estudado em diversas épocas e que adquiriu uma existência real ao ser inscrita no “Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria” através da Lei nº 13.816, de 24/4/2019.

Já na década de 1930, Pedro Calmon publicou o romance histórico Malês: a insurreição das senzalas, onde surge pela primeira vez seu nome como líder da Rebelião dos Malês, uma revolta dos negros muçulmanos, ocorrida em 1835 em Salvador. No entanto, o pesquisador João José Reis ao publicar o livro Rebelião escrava no Brasil (1986) afirmou que embora tenha estudado exaustivamente os documentos sobre a rebelião Malê, não localizou uma única referência sobre Luísa Mahin, o que o leva a crer que se trate de “um misto de realidade possível, ficção abusiva e mito libertário”.

Em 2006, a escritora Ana Maria Gonçalves publicou o romance histórico Um defeito de cor com mais de 900 páginas percorrendo sua trajetória de vida dos 5 anos até sua morte. Pouco depois surgiram estudos tentando desvendar o mito. Em 2010 Aline Najara da Silva Gonçalves publicou o estudo Luísa Mahin entre ficção e história e no ano seguinte, Dulcilei C. Lima lançou o estudo Desvendando Luísa Mahin: um mito libertário no cerne do feminismo negro. Trata-se de uma busca da compreensão sobre a enigmática figura de Luísa Mahin.

Há relatos que em 1837, após a Revolta Sabinada, ela conseguiu evadir-se para o Rio de Janeiro, onde foi detida e presa. Mas não existe nenhum documento que comprove esta informação. Alguns autores acreditam que ela tenha conseguido fugir para o Maranhão, onde desenvolveu o tambor de crioula. Há também relatos que ela, junto com outros negros amotinados, tenha sido presos e deportados para Angola. Mas são relatos sem provas documentais.

Luís Gama conclui em sua carta afirmando que ela “Era dotada de atividade. Em 1837, depois da Revolução do doutor Sabino, na Bahia, veio ela ao Rio de Janeiro, e nunca mais voltou. Procurei-a em 1847, em 1856, em 1861, na corte, sem que a pudesse encontrar. Em 1862, soube, por uns pretos minas, que a conheciam e que me deram sinais certos que ela, acompanhada com malungos desordeiros, em uma “casa de dar fortuna”, em 1838, fora posta em prisão; e que tanto ela como os seus companheiros desapareceram. Era opinião dos meus informantes que esses ‘amotinados’ fossem mandados para fora pelo governo, que, nesse tempo, tratava rigorosamente os africanos livres, tidos como provocadores”. E encerra dizendo que “Nada mais pude alcançar a respeito dela”.

Em 2018 a Escola de Samba Alegria da Zona Sul desfilou com o enredo Bravos Malês! A Saga de Luísa Mahim. No ano seguinte apareceu de novo no Carnaval carioca, citada como heroína entre outras figuras históricas negras, no enredo História para ninar gente grande, com o qual a Escola de Samba Mangueira ganhou o primeiro lugar. A manchete do jornal O Globo anunciava: “Enredo da Mangueira contará o lado B da história do Brasil na Sapucaí”.

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