Ana Pimentel nasceu em Salamanca, Espanha, em princípios de 1500. Colonizadora, esposa de Martim Afonso de Souza, dama de honra e prima da Rainha Dona Catarina (irmã de Carlos V, Rei da Espanha). Diz-se que era uma mulher de aspecto frágil, mas de grande autonomia. Casou-se em 1524 e no ano seguinte o casal mudou-se para Lisboa, levando Dona Catarina, que se tornou esposa de Dom João III, Rei de Portugal.
Em 1530, o marido foi designado a colonizar a Brasil e combater os franceses, que andavam de olho naquelas terras. Passou 3 anos no Brasil; fundou a vila de São Vicente e retornou à Lisboa em 1533. O Capitão-mór era um fidalgo português, navegante e explorador de territórios d’além mar, que não dispunha de tempo para cuidar da Capitania. Assim, a história conta que seu único ato relativo àquela parte do Brasil, foi providenciar uma procuração à sua mulher para administrar a Capitania. Em 1533 ele foi nomeado Capitão-mór do mar da Índia e depois tonou-se governador da Índia.
Consta que ela passou a cuidar da administração política e administrativa da Capitania por mais de 10 anos, até 1544. Realizou a distribuição das terras em sesmarias, designou alguns dirigentes e introduziu na selva brasileira, o cultivo da laranja, arroz e trigo e mandou vir da Ilha de Cabo Verde, bois e vacas para criar. Assim, pouco depois, os colonos já comiam carne bovina com arroz e trigo, algo nunca visto em terras brasileiras. São tarefas incomuns para uma mulher naquela época, mas que se deram a contento. Além de manter a administração da Capitania a distância, manteve a família de 8 filhos, que teve com o marido entre uma missão e outra, designada pela coroa portuguesa. As más línguas falavam que ela, na condição de dama de honra da Rainha, tinha alguns privilégios que lhe possibilitava contatos furtivos com alguns ordenanças. Mas, tais fofocas partiam de inimigos do marido, que vivia viajando. Logo, é fofoca que não importa na história.
Em 1536 providenciou carta de doação de uma sesmaria para Braz Cubas. 10 anos após, a sesmaria foi elevada a condição de Vila, que tornou-se a cidade de Santos e veio a prosperar mais que São Vicente. Outro de seus feitos foi desobedecer a ordem do marido, que proibia aquele povo de transpor a Serra do Mar, com acesso ao planalto paulista. onde se encontrava terras mais férteis e um clima mais ameno. A proibição devia-se a acordos mantidos em Lisboa, que tinha o planalto destinado a criação da Vila de São Paulo. Desse modo, foi a precursora da ligação do interior com o litoral, propiciando o surgimento dos Bandeirantes e o consequente desenvolvimento posterior da região.
Os primeiros anos da Capitania de São Vicente encontram-se registrados no documento manuscrito, transformado em livro, “O testamento de Martim Afonso de Sousa e de Dona Ana Pimentel”, publicado pela Editora da UFMG-Universidade Federal de Minas Gerais, em 2015. Dona Ana Pimentel administrou a Capitania até 1544 e veio a falecer em 1571.
Este Memorial tem publicado biografias de muitas “brasileiras” que não nasceram aqui, mas que escolheram ficar por aqui e aqui fizeram suas viidas: Branca Dias, Imperatriz, Leopoldina, Lina Bo Bardi, Brites de Albuquerque, Maria Baderna e Clarice Lispector, que disse nunca ter botado os pés na Ucrânia, lá só andou no colo.
Agora sai a biografia de uma espanhola que nunca botou os p´pés aqui. Administrou a capitania de São Vicente a distância.
Pois é Juliano.
Ana Pimentel não é brasileira e nunca esteve aqui. Mas fez mais pelo Brasil do que muitas nascidas aqui. Tanto é que consta em diversas galerias das brasileiras ilustres.
Domingos (graaaaaaande José), TODOS os domingos, traz grãos de areia da história, conduzindo cada um de nós à presença de mulheres maravilhosas, responsáveis por estarmos aqui e AGORA, pois a maioria de nós veio “d’além Mar”. Bendito o ventre de nossas bisavós, trisavós, tetravós (tataravós).
Sancho Pança
Você, além de guardião de Dom Quixote, é o observador perspicaz da nossa história.
Grato pelo estímulo ao trabalho de biografar os nomes de nossa história
Muito bom! Vou comprar o livro diretamente da editora: https://www.editoraufmg.com.br/#/pages/obra/529
Brito,
Só as mulheres fortes e de personalidades idem é que tinham capacidade para sobreviver numa época tão escura, cheia de óbices e tragédias.
Dona Ana Pimentel, bem como todas as mulheres fortes de sua época, à espera de uma biografia que honre sua história, certamente foi uma grande guerreira que sabia conduzir seu destino e marcou seu nome na história.
Naquela época somente as mulheres fortes sobreviviam!
Parabéns, mestre por mais essa memória esquecida da história oficial.
Caro Cícero
Aprendemos na escola que apenas duas capitanias hereditárias prosperaram: Pernambuco e São Vicente. Mas não nos disseram que as duas foram administradas por Brites de Albuquerque e Ana Pimentel, respectivamente.
abs
Brito
Todo domingo o colunista nos brinda com personagens que vale a pena conhecer! Gracias, Brito.
Eu é que agradeço pela sua manifestação, Dona Miriam
Além de Brites de Albuquerque e Ana Pimentel, que fizeram as capitanias de Pernambuco e São Vicente, vamos enfocar logo mais Luiza Grimaldo, que administrou a capitania do Espirito Santo.