Ana Amélia de Queiroz Carneiro de Mendonça nasceu em 17/8/1896, no Rio de Janeiro. Jornalista, poeta, tradutora, ativista cultural, entusiasta do futebol e uma das pioneiras do movimento feminista no Brasil. Considerada uma das melhores tradutoras de literatura da sua época, transmitiu o legado a sua filha caçula, a crítica teatral Barbara Heliodora, que assinou a tradução de inúmeras peças de William Shakespeare.
Passou a infância em Itabirito, MG, onde seu pai -José Joaquim de Queiroz Júnior- fundou a primeira usina siderúrgica do Brasil. Foi aí que tomou gosto pelo futebol; traduziu um livro com as regras do jogo; pediu ao pai uma botina para jogar bola; ensinou o esporte aos operários da usina e apitou vários jogos. Como parte da elite da época, não frequentou escola regular. Teve professores particulares estrangeiros, aprendendo inglês, francês e alemão. Em 1911 a família retornou ao Rio de Janeiro e aos 15 anos publicou seu primeiro livro de poesias Esperanças, Recordações de Infância. O livro foi elogiado pelos colunistas literários Barbosa Lima Sobrinho e Austregésilo de Athayde.
Aos 17 anos foi assistir a um jogo do América Futebol Club. No intervalo da partida, aproximou-se da arquibancada para apreciar melhor o goleiro. Foi amor à primeira vista e o casamento deu-se em 1917, quando o goleiro vestia a camisa do Fluminense. Pouco depois Marcos Carneiro de Mendonça tornou-se o primeiro goleiro da Seleção Brasileira de Futebol. Encerrada a carreira de goleiro, tornou-se colecionador de livros e pesquisador especializado no século XVIII. Fundou o CEPH-Centro de Estudos e Pesquisas Históricas e sua biblioteca foi a maior coleção de livros sobre o Brasil do século XVIII. Com um acervo de 11 mil volumes e 7 mil documentos, é hoje um dos destaques da biblioteca da Academia Brasileira de Letras.
O casal foi morar no “Solar dos Abacaxis”, um belo casarão a poucos metros do Largo do Boticário, no bairro Cosme Velho, hoje tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural. Os concorridos saraus promovidos pelo casal atraiam a nata da sociedade carioca. Foi neste ambiente que Ana Amélia fundou, junto com Paschoal Carlos Magno em 1929, a Casa do Estudante do Brasil-CEB. Foi eleita “Rainha dos Estudantes” e presidente da CEB até sua morte, em 31/3/1971.
Como jornalista foi diretora do suplemento feminino do Diário de Notícias e foi colaborou em diversos jornais do Rio de Janeiro: O Globo, O Jornal, A Noite e na Revista O Cruzeiro. Foi a primeira mulher a integrar o Tribunal Superior Eleitoral, fazendo parte da mesa apuradora das eleições de 1934. Foi, também, presidente da Associação Brasileira de Educação e introduziu o tema do futebol na literatura brasileira com a poesia O Salto, publicada no livro Alma. Além de sua atuação na área ramo educacional teve destaque como secretária do Hospital Pró-Matre e vice-presidente da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, na década de 1930, onde atuou ao lado de Bertha Lutz e outras mulheres pelo direito ao voto feminino, conquistado em 1932.
Representou o Brasil, em 1935, no II Congresso Feminista Internacional da Woman League International, realizado em Istambul, em 1935, e foi delegada do Brasil na Comissão Interamericana de Mulheres, entre 1941 e 1943. Foi convidada pelo governo de Israel, em 1964, para representar a mulher brasileira no Congresso Internacional Feminino pela Paz e Desenvolvimento. Publicou alguns livros de poesias: A Harmonia das coisas e dos seres (1936), Versos que eu digo (1937), Mal de amor (1939), Castro Alves, um estudante apenas, 50 poemas de Ana Amélia (1957), Todo mundo (1959) e a publicação póstuma de Quatro pedaços do planeta no tempo do Zeppelin (1976).
Seu arquivo no CPDOC-Centro de Pesquisa e Documentação da FGV-Fundação Getúlio Vargas foi o primeiro a ser organizado e disponibilizado para consulta após a inserção do marcador de gênero da Linha de Acervo da instituição e por apresentar a narrativa da mulher de forma independente da atuação de seu marido. Nesse arquivo ela é a protagonista. Os alunos que estudam hoje na Escola Municipal Ana Amélia Carneiro de Mendonça, em Bangu, talvez não conheçam a mulher que integrou o Conselho Diretor da Associação Brasileira de Educação por mais de 30 anos, pois não temos uma biografia e seu nome caiu na esquecida memória brasileira.
OBSERVAÇÃO:
Não confundir esta filha de Ana Amélia com Bárbara Heliodora (Guilhermina da Silveira), divulgada neste Memorial em 24/5/2000, A crítica teatral Bárbara Heliodora é, na verdade, Heliodora Carneiro de Mendonça, que acrescentou o nome “Bárbara”, certamente em homenagem àquela nascida em São João Del Rey, em 1759
Eita. Só mesmo o mestre Jose Domingos. Viva!!!
E viva também o Padre José Paulo, agora representando o Brasil na Academia de Letras Portuguesas, em Lisboa.
Grande Brito, sempre encontrando os mais importantes brasileiros entre aqueles que já ninguém mais se lembra que existiram e que engrandeceram a nossa cultura.
Parabéns!
Sendo assim, está a merecer uma dessas suas biografias sucintas a renomada e temida e amada crítica teatral e magnífica tradutora de Shakespeare, a quem dedicou inúmeros estudos e praticamente a sua vida inteira, a – ai de nós! – já esquecida Barbara Heliodora.
Abraços,
Airton
Pois é, Airton.
Encontrei Bárbara Heliodora, a inconfidente e esposa do poeta Alvarenga Peixoto, há 2 anos e inclui em nosso Memorial. Agora, ao encontrar Ana Amélia Mendonça, deparo, por acaso, com sua filha Heliodora, a crítica teatral, que acrescentou Bárbara ao seu nome.
Assim, estás coberto de razão: temos a Bárbara Heliodora II a merecer sua inclusão no Memorial. Aguarde.