CÍCERO TAVARES - CRÔNICA E COMENTÁRIOS

Posto de Saúde Terezinha Batista

Eram cinco horas da manhã de uma segunda-feira chuvosa.

Nesse dia o setor de emergência do Posto de Saúde Freira Terezinha Batista estava abarrotado de indigentes esperando atendimento, principalmente de jovens grávidas, geração Bolsa Família, programa esmola criado e ampliado no governo LULA, que tinha como lenitivo o suposto combate à pobreza, à desigualdade social e à assistência à população miserável, segundo exposição de motivos da lei 10.836, de 9 de janeiro de 2004, mas que, criminosamente, foi desviado do seu objetivo principal para dar lugar a um assistencialismo ladravaz jamais visto na história do Brasil.

Às seis horas da manhã chega ao setor de emergência uma paciente já em trabalho de parto. Os enfermeiros de plantão correm para atendê-la, mas quando se aproximam o bebê já está aos berros nas mãos da avó materna que veio acompanhada da neta na ambulância.

Mal a genitora e a avó descem do socorro, aparecem mais quatro crianças, filhos da neta, que tinham entre dois e três anos. Afora três de idade entre quatro, cinco e seis anos que haviam ficado no barraco assistidos pela irmã adolescente da genitora que, além de prenha do terceiro filho, também possuía mais dois de pais diferentes.

Arrancando os cabelos diante de tal situação e não controlando o desespero por ver tanto neto ao seu redor, a avó da genitora, uma senhora de quarenta anos, mas aparentando ter mais de sessenta, não contém a lágrima e, se dirigindo à neta, desabafa:

– Carminha, minha fia! Onde tu vai parar com tanto fio? Tu e tua irmã já tem pra mais de doze! Não é possível, fia! Tu tá pensando que o governo vai te sustentar e teus fios com essa esmola do bolsa família pra o resto da tua vida, é? Acorda pra Jesus, menina!

E continuou:

– Acaba com essa ilusão e vai arrumar um pau que tem sombra para tu descansar debaixo! Quem vive de promessa são palavras, menina! Tu precisa de um homem que cuide de tu e desses meninos, porque depois que Deus me levar, quem vai cuidar de tu e teus fios?

Desabafou a avó, soluçando, atenta a uma nova ambulância que chegava ao pátio do Posto de Saúde com mais uma filha do bolsa família com a barriga carregando trigêmeos, preste a dar à luz!

8 pensou em ““ARRUMA UM PAU QUE TEM SOMBRA”

  1. Cicinho, ela precisava ter conhecido minha tia Maria. Era um em janeiro e outro em dezembro! Arre égua. Era saindo um e entrando outro! Zulive! Foram 19 (“dizanove”, como dizemos por lá), e havia momento que tinha um na barriga, enquanto ela fazia o mingau para o que estava começando a andar! Kkkkkkkkk

    • Mamãe chegou quase perto, Zé!!

      Só não ultrapassou porque dois se foram no dia do parto!

      Dona Zulive tinha concorrente! Kkkkkkkkkkkk

  2. Eita, ferro! Ciço, meu bom compadre sua história é corriqueira nos sertões do Nordeste – ou, pelo menos, era no tempo em que fui criado pela minha avó materna, após o falecimento de minha mãe. Parece que não melhorou muito. Não havia bolsa-uma-merda-qualquer, mas filhos numerosos eram uma espécie de garantia da velhice. Lembro-me do comentário de uma tia sobre o desencantamento de minha mãe, que morreu no parto do que seria meu outro irmão, que foi junto com ela: “Coitada, a Hermita não era boa parideira. Se o Miguel (meu pai) não souber arrumar uma que seja, vai ter problema na velhice, não tendo ninguém para sustentá-lo”. Parece até que foi praga: minha madastra era estéril e não teve filhos, mas, felizmente, meu pai não passou nenhuma necessidade na velhice.
    Seu conto é um retrato da vida naquele sertão do Brasil.
    Grande abraço,

    • Estimado Magnovaldo Santos,

      Obrigado pela apreciação de: “ARRUMA UM PAU QUE TEM SOMBRA””. É sobre os filhos do Bolsa Família.

      Estou me deliciando com as crônicas antológicas do seu mais do que magnífico “Os Fuxicos do Senhor Engenheiro – Histórias para Filhos e Netos”.

      Ótimo Dia dos Pais.

    • Não, Nonato! Se reproduzem feito rato, barata e mosquitos.

      São os filhos do Bolsa Família, que o desgoverno Lulla quer domesticar e carregá-lo no cabresto.

      Feliz Dia dos Pais!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *