As ondas são anjos que dormem no mar,
Que tremem, palpitam, banhados de luz…
São anjos que dormem, a rir e sonhar
E em leito d’escuma revolvem-se nus!
E quando, de noite, vem pálida a lua
Seus raios incertos tremer, pratear…
E a trança luzente da nuvem flutua…
As ondas são anjos que dormem no mar!
Que dormem, que sonham… e o vento dos céus
Vem tépido, à noite, nos seios beijar!…
São meigos anjinhos, são filhos de Deus,
Que ao fresco se embalam do seio do mar!
E quando nas águas os ventos suspiram,
São puros fervores de ventos e mar…
São beijos que queimam… e as noites deliram
E os pobres anjinhos estão a chorar!
Ai! quando tu sentes dos mares na flor
Os ventos e vagas gemer, palpitar…
Por que não consentes, num beijo de amor,
Que eu diga-te os sonhos dos anjos do mar?
Manoel Antônio Álvares de Azevedo, São Paulo (1831-1852)