Tortura do pensar! Triste lamento!
Quem nos dera calar a tua voz!
Quem nos dera cá dentro, muito a sós,
Estrangular a hidra num momento!
E não se quer pensar! … e o pensamento
Sempre a morder-nos bem, dentro de nós …
Querer apagar no céu – ó sonho atroz! –
O brilho duma estrela, com o vento! …
E não se apaga, não … nada se apaga!
Vem sempre rastejando como a vaga …
Vem sempre perguntando: “O que te resta? …”
Ah! não ser mais que o vago, o infinito!
Ser pedaço de gelo, ser granito,
Ser rugido de tigre na floresta!
Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)
A nossa Florbela tinha uma paixão distante.
Sofria de pensar no amado que a deixara para viver em terras distantes.
Isso a angustiava demais.