Cacimba cavada no leito do rio
“Eu quis amar, mas tive medo
E quis salvar meu coração
Mas o amor sabe um segredo
O medo pode matar o seu coração
Água de beber
Água de beber, camará
Água de beber
Água de beber, camará”
Tom Jobim
Onze horas e alguns minutos. O sertanejo para a carpina, tira o chapéu da cabeça e, como poucos sábios, mas com muito esforço olha para o sol, diz: já é mais de 11 horas! Vou beber um pouco d´água para aliviar a fome.
Alguns diriam que seria para aliviar a sede, mas, no caso de Seu Chico, é para aliviar a fome mesmo!
Por anos muitos tinham realmente “apenas a água” para beber e matar a fome. Eis que a Natureza com o seu entendimento, tirou até a água. Mas Deus, bom e justo, apontou o caminho: tal qual orientou Moisés à atravessar as agruras e as adversidades e caminhar até o Monte Sinai, apontou para o homem de Fé, a Serra da Canastra, onde está entre pedras, a nascente do São Francisco.
Homens sem Fé resolveram acreditar no “bezerro de ouro”, largaram seus pertences, seus animais e até a sua pouca Fé, e partiram em êxodo para o nada.
Anos se passaram. O sofrimento cresceu, vidas desapareceram e, finalmente o dia da redenção chegou. A transposição não apenas da água do rio, mas a recuperação da vida, do verde que permite semear e produzir o alimento.
Enfim, a água. A vida e o restabelecimento da Fé.
Seu Chico sentou à sombra da catingueira. Pegou a cabaça e sorveu o alimento líquido. Saciou a fome espiritual e voltou à carpina, quando olhou para o sol mais uma vez, e vaticinou: meio dia!
Pote de barro – a geladeira de muitos
Faz tempo que a água é o principal “alimento” de muitos que nasceram e viveram no eixo que beira e dependem do São Francisco e da sua milagrosa água. Outros, dito acima, não se mantiveram em Fé e partiram.
Mas… e a água de beber, quando o milagre franciscano estava distante?
De onde saía?
Os poucos rios existentes, aos poucos foram secando e desaparecendo. Sem água, animais e humanos e a própria agricultura não viviam nem frutificavam.
Água de beber, camará?
Brasil, país excêntrico. Difícil de entender. Desperdício abusivo e incontrolável da água – que, para muitos ainda é o principal alimento.
Aqui, falta água de beber. Ali, lava-se carros, calçadas, ruas.
Água de beber, camará!
Foto 3 – Cabaça ainda é o cantil de muitos
Parece que o amor ambulante está cortando a água e o dinheiro para distribuição de água.
Parabéns pelo texto e obrigado!
Nonato, obrigado a você.