VIOLANTE PIMENTEL - CENAS DO CAMINHO

Uma das minhas iguarias preferidas é quindim. Aprendi a gostar com a minha saudosa mãe, dona Lia, que cozinhava muito bem e dava preferência às sobremesas que levassem coco.

O quindim é um doce, à base de açúcar, gemas e coco ralado. É de se comer, “até lamber os beiços.”

Além de gostar de quindim, minha mãe também gostava muito da canção “Os Quindins de Iaiá” (de 1941), que cantarolava, embalando o filho caçula, como se fosse uma canção de ninar.

Sem dúvida, foi dela que herdei a preferência por quindim, que conservo até hoje.

“Os Quindins de Iaiá”, da autoria de Ary Barroso (1903-Ubá-MG / 1964-Rio de Janeiro-RJ), fez muito sucesso na voz do autor, como também na voz de Carmen Miranda, Dorival Caymmi (1914–2008), Dominguinhos e outros excelentes intérpretes.

“Aquarela do Brasil”, também da autoria do grande compositor Ary Barroso, foi a música que consolidou o estilo samba-exaltação, e ajudou a elevar o gênero samba à categoria de símbolo musical nacional.

Filho do advogado João Evangelista Barroso e Angelina de Resende Barroso, Ary Barroso ficou órfão aos 6 anos de idade. Os pais foram vítimas da tuberculose.

Ary Barroso foi criado pela tia avó, a professora de piano Ritinha, que o introduziu na música. Com 12 anos de idade já trabalhava como pianista auxiliar no Cinema Ideal de Ubá (MG), acompanhando os filmes mudos. Com 15 anos, começou a compor.

Com 18 anos, recebeu uma herança do tio Sabino Barroso, ex-ministro da Fazenda, e partiu para estudar Direito no Rio de Janeiro. Morava numa pensão de luxo, frequentava os melhores restaurantes e comprava as melhores roupas.

Quando o dinheiro acabou, passou a tocar piano em cinemas e cabarés, para se sustentar. Acabou gostando da boemia carioca.

Em 1923, passou a tocar na orquestra do maestro Sebastião Cirino, na sala de espera do teatro Carlos Gomes.

Em 1926, iniciou o Curso de Direito, interrompido diversas vezes.

Em 1928, foi contratado pela orquestra do maestro Spina, de São Paulo, para uma temporada de oito meses em Santos e em Poços de Caldas.

Em 1929, Ary voltou para o Rio de Janeiro. De pensão em pensão, foi parar na Rua André Cavalcanti, 50. Gostou das acomodações e da filha da dona da pensão, Ivone Belfort de Arantes. A família não concordava com o casamento de Ivone com o pianista boêmio.

Depois de ganhar um concurso de música carnavalesca com a marchinha “Dá Nela”, Ary pode pagar as despesas, e com o diploma de bacharel em direito, conquistado em 26 de fevereiro de 1930, pode se casar com Ivone. Ainda morando na pensão, nasceram os filhos Flávio Rubens e Mariúzia.

Em 1932, Ary Barroso ingressou na Rádio Philips a convite de Renato Murse. Além de pianista, foi humorista, animador e locutor esportivo.

Em 1933, enfrentou uma grande crise pessoal, quando perdeu a esposa Ivone e a avó no mesmo ano.

Depois da Rádio Philips, Ary foi para a Mayrink Veiga, e de lá, em 1934 foi para a Cosmos, em São Paulo, época em que criou o programa “Hora H”. Exigia que os calouros cantassem apenas músicas brasileiras e que citassem o nome do compositor.

Carmem Miranda foi uma de suas principais intérpretes e também grande amiga, com quem passeava nas ruas do Rio. O sucesso de “Aquarela do Brasil” na voz da cantora, fez com que Ary Barroso se transformasse em compositor e arranjador de filmes de Hollywood.

Ary Barroso notabilizou-se pelas músicas “Aquarela do Brasil, “Na Baixa do Sapateiro”, “Os Quindins de Yaiá” “No Tabuleiro da Baiana” e outras.

Retratou em suas canções, muitos aspectos do cotidiano popular. O samba esteve presente na maior parte de suas músicas, mas também estiveram presentes o xote, o choro, o foxtrote e a marcha.

Foi convidado, em 1936, para ser locutor na Rádio Cruzeiro do Sul. Apesar de já ser um compositor de sucesso, a atividade de locutor e comentarista esportivo se tornaria uma marca registrada de sua carreira.

Seus programas de calouro ficaram famosos e em 1937 inovou com um sino, para eliminar os calouros na Rádio Cruzeiro do Sul, no Rio de Janeiro. Quando foi para a Rádio Tupi, instituiu o gongo.

Ary Barroso, portanto, foi o precursor do gongo, imitado em programas de calouros, na televisão, tipo “A Buzina do Chacrinha” do apresentador José Abelardo Barbosa de Medeiros, mais conhecido como Chacrinha (1917-1988), que muito divertiu os telespectadores brasileiros, com seus jargões engraçados.

Os quindins de Iaiá
Cumé, cumé, cumé?
Os quindins de Iaiá
Cumé, cumé, cumé?
Os quindins de Iaiá
Cumé?

Cumé que faz chorar
Os zóinho de Iaiá
Cumé, cumé, cumé?
Os zóinho de Iaiá
Cumé, cumé, cumé?
Os zóinho de Iaiá
Cumé?

Cumé que faz penar
O jeitão de Iaiá
Me dá, me dá
Uma dor
Me dá, me dá
Que não sei
Se é, se é
Se é ou não amor
Só sei que Iaiá tem umas coisas
Que as outras Iaiá não tem
O que é?

Os quindins de Iaiá
Os quindins de Iaiá
Os quindins de Iaiá
Os quindins de Iaiá

Tem tanta coisa de valor
Nesse mundo de Nosso Senhor
Tem a flor da meia-noite
Escondida nos canteiros
Tem música e beleza
Na voz dos boiadeiros
A prata da lua cheia
No leque dos coqueiros
O sorriso das crianças
A toada dos barqueiros
Mas juro por Virgem Maria
Que nada disso pode matar…
O quê?
Os quindins de Iaiá…

16 pensou em “ADORO QUINDIM

  1. Violante,

    Parabéns por abordar na sua crônica o quindim que representa uma das melhores delícias da nossa rica culinária. Quindim sempre foi o doce preferido de Mario Quintana (1906 – 1994). O doce é simples, fácil de fazer e fica uma delícia!

    Quando falamos de cozinha, o assunto é indiscutível. O doce preferido de Mario Quintana já rendeu até contos e crônicas nas mãos de outros escritores. O poeta Paulo Hecker Filho, no livro “Fidelidades”, conta que ele costumava deixar na porta da casa de Quintana um presente especial. Tratava-se de livros e quindins acompanhados de um bilhete: “Para estar ao lado sem pesar com a presença”.

    O escritor Fabiano Dalla Bona, autor do livro “O Céu na Boca”, também conta que um dos rituais de Quintana era ir até a lanchonete do jornal Correio do Povo, em Porto Alegre, pedir um quindim e uma xícara de café preto bem forte sem açúcar. Esta paixão toda até lhe rendeu entre os amigos o apelido de Mario Quindim.

    Aproveito a oportunidade para compartilhar um poema do cordelista carioca Jeronimo Madureira, em um tributo as iguarias distribuídas na festa de Cosme e Damião, com a prezada amiga:

    SALVE COSME E DAMIÃO!

    Em setembro vinte e sete,
    Tem aquela tradição:
    Garotada se diverte
    Na doce celebração.

    Muito riso e muito grito,
    Só por causa dos saquinhos
    Com chiclete e pirulito,
    E muitos outros docinhos:

    Tem cocada e tem quindim,
    Cocô de rato e bombom,
    Paçoca de amendoim,
    E chocolate batom,

    Maria-mole e cocada,
    Bananada e pão de mel,
    Goiabada açucarada,
    Criançada vai ao Céu.

    Língua de sogra com apito,
    Bola de gude e carrinho,
    Meninada solta o grito,
    Quando tem um brinquedinho.

    Salve Cosme e Damião,
    Queridos Santos meninos!
    Peço a Sua proteção,
    Para os nossos pequeninos!

    Desejo um final de semana pleno de paz, saúde e alegria!

    Aristeu

    • Obrigada pelo rico comentário, prezado Aristeu!
      Adorei saber da predileção do grande escritor Mário Quintana (1906-1994) por quindim, “e que o tema já rendeu até contos e crônicas nas mãos de outros escritores.”
      Você enriqueceu meu texto!
      Gostei imensamente do seu relato:
      “O poeta Paulo Hecker Filho, no livro “Fidelidades”, conta que ele costumava deixar na porta da casa de Quintana um presente especial. Tratava-se de livros e quindins acompanhados de um bilhete: “Para estar ao lado sem pesar com a presença”.
      O escritor Fabiano Dalla Bona, autor do livro “O Céu na Boca”, também conta que um dos rituais de Quintana era ir até a lanchonete do jornal Correio do Povo, em Porto Alegre, pedir um quindim e uma xícara de café preto bem forte sem açúcar. Esta paixão toda até lhe rendeu entre os amigos o apelido de Mario Quindim.”
      Obrigada, também, por compartilhar comigo este belo poema do cordelista carioca Jeronimo Madureira, em um tributo às iguarias distribuídas na festa de Cosme e Damião, que aqui repito:

      “SALVE COSME E DAMIÃO!

      Em setembro vinte e sete,
      Tem aquela tradição:
      Garotada se diverte
      Na doce celebração.

      Muito riso e muito grito,
      Só por causa dos saquinhos
      Com chiclete e pirulito,
      E muitos outros docinhos:

      Tem cocada e tem quindim,
      Cocô de rato e bombom,
      Paçoca de amendoim,
      E chocolate batom,

      Maria-mole e cocada,
      Bananada e pão de mel,
      Goiabada açucarada,
      Criançada vai ao Céu.

      Língua de sogra com apito,
      Bola de gude e carrinho,
      Meninada solta o grito,
      Quando tem um brinquedinho.

      Salve Cosme e Damião,
      Queridos Santos meninos!
      Peço a Sua proteção,
      Para os nossos pequeninos!”

      Desejo a você também um excelente final de semana, com muita paz, saúde e alegria!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *