MAURÍCIO ASSUERO - PARE, OLHE E ESCUTE

O artifício de desviar a atenção para problemas reais com “novidades” extremas não é algo inédito na política. Os exemplos são inúmeros e o que mais se destacava era a guerra. Sempre que a economia mundial se aproximava de um colapso, então fulano declarava guerra contra sicrano e aliados de ambos os lados se incorporavam para defender fatos que nem sabiam ao certo, quais eram. Inúmeros jovens mandados para matar outros jovens para defender o interesse particular de um governo.

O fato mais recente, porém, sem nenhuma surpresa, é a denúncia formulada pela Procuradoria Geral da República contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Para mim, diante fragilidade do PT – mais expressivo representante da esquerda no Brasil – Bolsonaro agiu de forma desproporcional ao cargo. Era o momento de organizar as pessoas que se colocaram contra a roubalheira, mas que foram favoráveis à liberdade econômica, combate ao desperdício do dinheiro público e redução do tamanho do estado etc., mas algumas coisas menores acabaram ofuscando ou mitigando coisas maiores.

Uma das principais coisas que eu coloco como um colossal erro político foi a escolha do vice-presidente na chapa. Na primeira tentativa, tivemos o General Mourão que, individualmente, não agregava voto em nenhuma região e acabou se envolvendo num manto suspeito de interlocução com Alexandre de Morais. Em 2022, havia uma pessoa competente, desenvolvendo um trabalho importante no ministério da agricultura que era a senadora Teresa Cristina. Ligada ao agronegócio, com grande representatividade no seu estado e conhecida na região, ela foi preterida pelo general Braga Neto que pode até ser um estrategista, mas não demonstrou esse espírito.

Não resta dúvidas, para mim, que Bolsonaro será acusado de tramar o tal golpe de estado, de concordar com o assassinato de Lula e tudo mais. Eu acho que Bolsonaro não tem cara de santo, no entanto, era preciso ser muito burro para apoiar um crime contra um cara que, politicamente, não representava mais nada. Lula foi eleito por forças ocultas e não por eleitos humanos. Falo isso, na qualidade de professor de métodos quantitativos, mais especificamente, na qualidade de um técnico que usa, faz e ensina como pesquisar e como analisar dados.

Durante a divulgação das pesquisas eleitorais, eu ironizei bastante e fazia uma conta simples, uma conta de chegada. Em 2018 Bolsonaro teve 54% dos votos. Mesmo que ele perdesse uns 10% dos seus eleitores, e considerando o aumento na quantidade de votantes, em 2022, Lula só seria eleito se todos os eleitores que deixaram Bolsonaro mais os eleitores novos em 2022, votassem em Lula. Lula foi eleito sem condições de andar pelas ruas do país e ainda continua assim.

No meio disso tudo, eu vejo uma cortina de fumaça para encobrir as mazelas de um governo medíocre que não tem o que entregar de bom à sociedade. Particularmente, li uma declaração de Gleisi Hoffmann onde ela dizia que “a oposição precisa se preocupar com Bolsonaro no banco dos réus”. Isso não deve ser preocupação da oposição. Quem precisa cuidar disso são os advogados de defesa de Bolsonaro, não a oposição ao governo. O papel da oposição é fiscalizar, coibir, consertar as besteiras que o governo vem fazendo e nesse campo há muito para se fazer.

Não resta dúvidas de que essa denúncia é uma forma de enfraquecer a oposição. O presidente, de acordo com as pesquisas, perde a eleição em todos os cenários. Por isso, há uma necessidade muito urgente de tirar o principal oponente do campo de batalha. Certamente, alguns eleitores lulistas irão dizer que a prisão de Lula tinha esse objetivo, ou seja, tirá-lo da disputado, mas no caso de Lula havia provas, Moro não tinha qualquer vínculo com Bolsonaro, sua decisão foi referendada por nove outros juízes. Confesso que não li a denúncia da PGR, mas li alguns trechos de editorais de grandes jornais questionando a peça. Também vi alguns advogados afirmando que não há provas, mas Bolsonaro tem 99,99% de chance de ser condenado e preso.

Cabe lembrar que a cada ação corresponde uma reação – igual e oposta, como dizia Sir Isaac Newton. E no meu entendimento, a maior reação é a banda boa desse país se organizar em torno de um nome capaz de expulsar essa corja do planalto. Isso não resolve, mas traz um fio de esperança. Não seremos capazes de mudar a estrutura do STF, mas somos capazes de eleger senadores com coragem suficiente de acatar um pedido de impeachment.

Observem o seguinte: em 2026 vamos renovar 2/3 do senado, ou seja, 54 senadores. Para formar maioria, no senado, são necessários 42 senadores. Existem 8 senadores do PL que continuarão e fala-se do apoio de, pelo menos, mais 20, sendo pessimista. Assim, estamos falando de 14 senadores sintonizados com a dignidade para tentar mudar esse país.

11 pensou em “AÇÃO E REAÇÃO

  1. Meu caro Assuero, como sempre seu comentário é irretocável, peitar o sistema com uma câmara e um senado que temos hoje é suicídio político, quanto a prisão do ex-presidente não há dúvida, acontecerá, leis e constituição, após 2019 deixaram de existir só para um lado, quanto ao outro tudo pode, até quando não sabemos. A esperança como você falou, é que esse 2/3 do senado não tenham nenhuma capivara, pois os poderosos são criativos e tem na mão a caneta.

    • Eu concordo com você Agnaldo: a maioria não sabe e uma das formas da gente constatar é analisando, friamente, o que o pessoal publica. A gente só consegue mudar, se a proposta for coerente e integral. Por exemplo: o que adianta eu orientar meu filho sobre política se o professor dele é um doutrinador? Se a gente não provocar a reflexão, não chegaremos a lugar nenhum. Pra mim, a coisa deve começar pelo senado.

  2. O cerco está se fechando, o sistema não tem outra saída que não seja o Descondenado, mas temos o Tarcísio, a Michelle e outras feras, mas o problema maior, são as “maquininhas amestradas”, essas sim, definirão o nosso futuro e como está, não vejo saída.

    • Marcos, eu já disse outras vezes: no dia que Lula morrer, a esquerda desse país será enterrada, por falta de seguidores. Não há outra pessoa e a esquerda orbita em torno dele.

  3. Já lá se vão mais de seis anos de todo esse mal, entranhado nas vidas de todos nós brasileiros: conservadores, cristãos, honestos, trabalhadores, cumpridores e respeitadores da Lei, da Ordem e da Justiça.
    O lado certo, simplesmente isso.
    A correção, a verdade, a solidariedade, a sociabilidade, a boa educação, o cumprimento do dever, são inerentes do nosso convívio.
    Por quê, esse arregaçamento sociopoliticoeconomico? Além do regime persecutório contínuo infindável, direcionado exclusivamente para a população de bem?
    As respostas à essas e tantas outras perguntas sôbre tais absurdos, bem o conhecemos.

    Todos sabemos, também, exatamente quem e qual o órgão, de acordo com a Lei. Podem dar um basta à essa série de atrocidades e bizarrices.
    Mas por quê diabos não fazem nada? Alguns dirão que não se tem a maioria dos votos para vencer qualquer projeto que objetive o impedimento de quem quer que seja. Será?
    Ou é porque, ali, só têm vaselinas, rabos presos, frouxos e acordos espúrios. Vide a reeleição para presidentes das duas Casas Legislativas. Lembrando, já são mais de seis anos e continua essa mesma lenga-lenga de sempre. Ora! Vão se catar!
    São 81 Senadores e mais 513 Deputados. Total de 594 parlamentares. Que não servem pra porcaria nenhuma mais, com essa juristocracia instalada.
    Todos, recebendo seus salários em dia. Suas ajudas de custos e mais uma série de outros benefícios e mordomias. Emprego da pôrra, esse hein! Faça chuva, faça sol, vento, tempestade, “covid”, etc. O pagamento não atrasa nunca.
    Com as “redes sociais”, fica fácil engambelar seus eleitores e toda a população, que acreditam nos seus esforços, nos seus empenhos e seus “hercúleos” trabalhos. Que são exaustiva e continuamente mostrados em seus vídeos, “lives”, “tik tok”, “threads”, “facebook” e tantos outros.
    Efeito prático nenhum. Pois tudo é efêmero. Tem coisas que são esquecidas no mesmo dia. Em dois, três dias. Em uma semana.
    Quem não se lembra do vídeo do Dep. Nikolas Ferreira sôbre o “pix”. Mais de 350 milhões de visualizações. Alguém fala mais alguma coisa à respeito?
    A questão, é que fica aquela sensação: pô! Esse cara me representa. Aí, vota de novo no cara. O cara é reeleito, dependendo do cargo, “ad eternum”. Vira político profissional com a sua rotina imutável para o “dolce far niente”.
    Bem! Esperemos e acreditemos uma vez mais, que no dia 16 de março próximo. Todos os brasileiros, patriotas, conservadores e cristãos, passamos dar um grito de liberdade que ecoe em todos os rincões dessa Nação. Definitivamente.
    Deus, Pátria, Família e Liberdade.

    • Luis, eu tenho essa sensação de desespero em muitas situações da vida. Até achei que minha esperança tinha sucumbido e pra ser sincero, não me afastei desse sentimento. No entanto, saber que podemos mudar o senado é um grande alento. Agora, precisa trabalhar pra isso

      • Bom dia.
        Prof. Maurício Assuero, você está coberto de razão.
        Vejamos o que aconteceu em El Salvador.
        Evidentemente, mendido-se as devidas proporções com o Brasil.
        Mas o Pres. Nayib Bukele, só pode implementar seus planos para transformar o seu país, entre tantas outras melhorias, no mais seguro do mundo. Trabalhando arduamente, em seu primeiro mandato, para garantir a absoluta maioria no parlamento salvadorenho. Né verdade?
        Dentro da lei, de fato, o caminho é esse. Nossos cumprimentos mais uma vez, pelo seu brilhante artigo.

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