Absurdo é uma ave grande e desajeitada, cuja principal característica é seu grito, alto e estridente, capaz de desnortear outros animais que estejam por perto, inclusive seres humanos.
Seu nome vem exatamente dessa característica. Do latim “absurdus”, unindo a partícula “ab” (desde; a partir de) a “surdus” (o que não escuta), adquirindo, pelo uso coloquial, o significado de dissonante, fora do tom, desafinado.
Não se pode dizer que seja um animal raro, porque os absurdos proliferam em todo o planeta, sendo comuns na América do Sul. No Brasil, parecem encontrar condições muito favoráveis à sua reprodução. Estudos comprovam que grandes absurdos, oriundos dos Estados Unidos, às vezes migram para o sul, tornando-se ainda maiores quando chegam a terras brasileiras.
Há registros de absurdos na Amazônia, na caatinga, no cerrado, na mata atlântica e nos pampas. Mas é uma ave misteriosa, que consegue se manter oculta onde deveria facilmente ser vista, aparecendo inesperadamente em ocasiões e lugares improváveis.
Um dos maiores mistérios dos absurdos é a diversidade de formas com que são descritos. Ao que tudo indica, ninguém tem certeza quanto a sua aparência, mas todo mundo nota quando um absurdo chega. Ou quase todo mundo, porque sempre há os distraídos, que não percebem a presença do absurdo, mesmo quando ele está diante de seus olhos.
E tem também aquela turma que finge só perceber os absurdos que prejudicam seus interesses. Quando o absurdo os favorece, parecem mais distraídos que os distraídos de verdade:
– Olha o tamanho desse absurdo, gente!
– Onde?
– Aí! Na sua frente!
– Aqui? Não vejo absurdo nenhum.
E a vida segue. No fundo, a presença de um absurdo sempre causa certa surpresa, perplexidade e até medo. Especialistas dizem que mesmo quem é responsável pela criação de um absurdo se abala com sua presença. Mas certamente há quem se divirta criando absurdos.
Como diz o poeta Jessier Quirino, nesse mundo existe gente pra tudo, e ainda sobra dois pra tocar gaita!
O certo é que às vezes o absurdo é fugaz: surge, mas logo desaparece. Outras vezes permanece por longos períodos junto a agrupamentos de seres humanos. Vai ficando por ali, fingindo normalidade, até que as pessoas acabam se adaptando à sua presença. Continua sendo um absurdo, mas não incomoda mais ninguém. Ou quem se incomoda não diz nada, com receio de ser tratado como intolerante.
Sim! Porque às vezes o absurdo ganha a proteção de defensores, ONGs e ativistas, de modo que quem o trata como tal, ou seja, como absurdo, passa a sofrer represálias de toda sorte.
E ainda tem os absurdos que fazem seus ninhos no alto dos prédios públicos, em palácios, ministérios e tribunais. Esses costumam ser grandes, apesar do esforço de algumas autoridades para os fazer parecer pequenos. O simples ato de expor publicamente a existência desses absurdos pode levar alguém a sofrer sanções jurídicas, com a perda de bens e até da liberdade.
Mas, o fato é que os absurdos seguem alheios a tudo isso, e não deixam de ser o que são: absurdos. Podemos fingir que os ignoramos, podemos simular indiferença quando os vemos, ou negar a sua presença. Ainda assim eles continuarão lá.
E quem conhece a sua natureza sempre sentirá a esperança pulsar em seu coração quando ouvir alguém dizer, em tom de alerta:
– Mas isso é um absurdo!
P.S.: Como não consegui a foto de nenhum absurdo, a imagem ilustrativa é de um urutau, ave também conhecida como mãe-da-lua.
Estamos vivendo um tempo de absurdos, onde temos que maquiar as palavras para não ser “absurdados”.
Todo cuidado com os absurdos é pouco.
MMM, estudar no Liceu do Ceará me fez um grande bem. A leitura feita de pé para o entendimento da professora e suas corretivas necessárias, nos obrigou e acostumou “ler nas entrelinhas”. Até os “absurdos”!
Seu José Ramos, certa ouvi falar de um absurdo visto em um quintal, entre galinhas. Mas acredito que ele possa aparecer também entre linhas.
O urutau é fruto de cruzamentos recessivos do urubu, tucano, absurdo e urumutum; O absurdo é o dominante e os demais recessivos.
O bicho é esquisito.