Este colunista, Abelardo da Hora e Claudionor Germano
Revendo velhos temas sobre o Recife me vem à mente um fato expressivo: a cultura pernambucana ainda se ressente de maiores cuidados e a obra de Abelardo da Hora, por exemplo, que deveria estar num museu de nossa cidade, encontra-se na Paraíba. Necessita-se de maiores cuidados e divulgação nacional de certos artistas, sobremodo os pintores e escultores.
Minhas observações partem dos anos de 1960, quando tive oportunidade de entrevistar Inalda Xavier, Zuleno Pessoa, Wilton de Souza, Corbiniano Lins e Abelardo da Hora.
Este último merece aqui algumas notas, como homenagem post morten, pois com ele estive frevando poucos anos antes de se encantar, no Salão Capiba, da AABB, quando comemoramos o aniversário dos 80 anos de seu irmão, o cantor Claudionor Germano da Hora.
Poucos sabem que Abelardo teve o privilégio de iniciar Francisco Brennand como escultor. Embora sendo dedicado às artes de desenhista, gravurista, pintor e ceramista, se tornou mais conhecido como escultor.
Outra particularidade da trajetória desse artista é que ele estudou Ciências Jurídicas e Sociais, diplomando-se pela Faculdade de Direito de Olinda, mas sua tendência não era advogar. Sempre esteve ligado às belas artes e assim fez fama e manteve sua família.
Para se aperfeiçoar entrou no Curso Livre de Escultura da Escola de Belas Artes do Recife. A partir da década de 1940, realizou vários trabalhos em cerâmica para Ricardo Brennand, com temas relacionados a frutas e motivos regionais.
Abelardo tem esculturas em várias praças do Recife, do Brasil e do exterior além de empreendimentos comerciais de grande porte, em importantes pinacotecas, públicas e privadas. Uma curiosidade interessante me cabe aqui assinalar.
Para muitos entendidos na arte da escultura o nome de Abelardo da Hora é inigualável e o Recife é a cidade-sede de sua ampla obra.
Aqui se inspirou e produziu maravilhas que contam com uma exposição permanente e a céu aberto. Mas é na Paraíba que repousa sua coleção.
Manteve, na Rua do Sossego, 792, um casarão da Boa Vista, uma exposição permanente de suas obras. Foi lá que nos anos 80 me concedeu uma entrevista, para o Diário de Pernambuco.
Soubemos que foi um dos fundadores da Sociedade de Arte Moderna do Recife, nasceu no interior de Pernambuco, na cidade de São Lourenço da Mata e deixou para a eternidade de nossa capital as peças: “Monumento ao Maracatu”, próximo ao Forte das Cinco Pontas; “Monumento ao Frevo”, na Rua da Aurora; “Mulher Deitada”, no Shopping Recife e “Mulher Sereia”, no Mar Hotel “. Poucos artistas deixaram igual legado.
Ao todo de sua coleção se somam 179 peças, vários desenhos, além de uma coleção com algumas maquetes. Sempre foi muito claro para o governo de Pernambuco que nossa cidade seria o melhor lugar para ser mantido o acervo artístico e documental do escultor.
Razões para isso são inúmeras, bastando citar ter sido toda a sua obra criada nesta cidade e inspirada pela cultura pernambucana; trabalho de um homem apaixonado e comprometido com temas regionais.
Diante desse quadro de realizações, infelizmente temos hoje a obra de Abelardo transferida para a Paraíba. Nosso governo, conforme reportagem publicada no Diário de Pernambuco, teria escolhido um local próprio para sua guarda, promoção e conservação.
A exposição das obras de arte e demais documentos, depois de muitas negociações acabou indo parar em João Pessoa. Foi uma operação de guerra, quando se utilizou sete caminhões baús, caminhões-guindastes, paleteiras manuais e içadores.
Bem que Pernambuco poderia ter mantido aqui tal acervo pois já se havia separado uma nova ala no Museu Cais do Sertão, localizado no Bairro do Recife.
Mas o Governo de Pernambuco, segundo se diz, foi surpreendido quando soube que seus herdeiros decidiram transferir o acervo para o estado vizinho E assim nos contentamos com lembranças intocadas em vários pontos da capital de Pernambuco.
Um passeio pelo Recife é um meio de apreciar as obras do artista, espalhadas por praças importantes da cidade.
“Mulher deitada”, peça de escultura que se encontra na Paraíba
Meu último encontro com Abelardo foi durante homenagem prestada a Claudionor Germano, quando comemoramos seus 80 anos de idade.
No auge da festa, quando uma fração do Bloco da Saudade entrou no salão para cantar e dançar, a orquestra entoou um frevo de bloco ele não resistiu. Nem deu bolas para os seus 90 anos. Levantou-se e entrou no salão rodopiando.
Pegou-me pela mão e saímos dançando pelo salão, formando-se em torno dos frevistas improvisados, uma emocionante roda de canto e dança, sendo os ritmos desse embalo algumas músicas do memorável Capiba.
Abelardo nos deixou no dia 23 de dezembro de 2014, no Recife. Dele guardo a vibrante lembrança de haver sido seu parceiro num frevo rasgado.
corpo defeituoso, desproporcional. Uma escultura horrivel.
Mal gosto em alta escala.