CARLITO LIMA - HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

O fato se deu no início dos anos 60, quando a humanidade ainda era ingênua. Iracema tinha 17 aninhos, todo homem de Atalaia desejava seu corpo moreno. Bela cafuza, exótica e exuberante jovem, cabelos negros escorridos, rosto redondo, olhos pequenos, lábios carnudos e encarnados, Iracema era conhecida como Índia, filha de cortador de cana, pobre e analfabeta, os homens desejavam a jovem alegre morena sensual.

Certo dia o pai morreu, cachaça. Sua mãe havia fugido com um motorista de caminhão, arribou pela estrada afora, tornou-se prostituta estradeira, o maior desgosto do marido. Iracema ficou só no mundo. Aconselhada por amigas foi tentar sobreviver na capital. Arranjou trabalho de empregada doméstica, logo foi assediada pelo patrão, pelos dois filhos e pelo avô, o bom velhinho quando olhou a Índia pensou que era moço, todos tentaram. Iracema saiu do emprego, queria continuar virgem até casar, assim havia prometido ao pai. Não tinha para onde ir, perambulando pela capital, conheceu Cícero que teve pena levou-a para sua casa, pediu a mãe para dar guarida até arranjar emprego. Na casa de Cícero não se podia pagar empregada. Iracema fez alguns trabalhos em troca da comida e dormida. Difícil uma analfabeta achar emprego. Certo dia, uma vizinha aconselhou.

– Menina você é muito bonita, os homens lhe desejam, vá ganhar dinheiro no cabaré.

– Eu sou virgem- disse Iracema.

– Sua virgindade vale ouro, muito coronel pagaria um dinheirão para tirar-lhe o cabaço.

O Cão, o Demo, o Belzebu ficou atentando o juízo de Iracema. Numa bela noite, ela procurou a vizinha, pediu para conhecer a zona. Ao chegar à Boate Tabariz no bairro boêmio de Jaraguá, subiram a íngreme escada. Iracema empolgou-se com a beleza do salão. O proprietário, Severino dos Santos, o rei da noite, chegou perto, a amiga foi falando ao proxeneta.

– Olhe o presente que trouxe, essa bela índia. Aproximou-se, cochichou no ouvido do Negão: -É virgem.

Severino, conhecedor profundo das almas das putas, interessou-se por Iracema; o fato de ser virgem, deixou-lhe empolgado. Havia quem desse uma boa grana pela virgindade daquela jovem. Mandou-a esperar, Iracema estava deslumbrada com a música do conjunto, a alegria da casa, os pares dançando no salão. Severino levou-a ao escritório, um quarto especial e deu uns trocados para amiga e despachou-a. Ficou com Iracema, era todo sorriso, simpático, passava confiança às jovens, um explorador adorado pelas raparigas. Fez algumas perguntas à Índia. De repente pediu-lhe para tirar a roupa. Iracema desabotoou os laços nos ombros, o vestido de chita caiu no chão, desabrochou a beleza nua da jovem, o sangue esquentou as veias do cafetão, conteve-se. Se não fosse virgem ele seria o primeiro, contudo, aquele cabaço valia ouro.

– Você vai passar alguns dias só aparecendo no salão. Amanhã vou comprar alguns vestidos para você. Não vá para cama com ninguém, só apareça, diga que é virgem, eu vou arranjar alguém especial para lhe tirar a virgindade, depois fica trabalhando na boate.

Toda noite Severino anunciava o leilão da virgem Iracema dos lábios de mel no dia 22 de março, com Show de Reinaldo, uma trupe divertida de travestis, e inauguração da luz negra no salão. Na noite marcada a Boate estava cheia; políticos, coronéis, usineiros, reservaram mesa. Foi uma das maiores festas na história do bairro boêmio de Jaraguá. O felizardo ganhador do leilão foi um fazendeiro, colecionador de cabaços, tinha um colar, cada conta significava uma virgem sacrificada. Pagou uma fortuna por Iracema, a virgem dos lábios de mel.

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