CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

O ofício de repórter sempre me mostrou a tendência para pesquisar e historiar. Na década de 1960, quando Brasília se afirmou como capital do País, funcionários de instituições públicas e autarquias se preocuparam em arranjar um jeito de permanecer residindo no Rio de Janeiro. Fossem quais fossem os artifícios, inclusive a aposentadoria.

Eleutério Proença de Gouvêa, Gerente do Banco do Brasil, com quem convivi bom tempo, foi um dos que optou por ser transferido para o Recife, a fim de preencher o tempo para sua aposentadoria, contanto que não deixasse de residir no Rio.

Não foi o único. Agripa Ulysses de Vasconcelos, médico do quadro do Banco, poeta e consagrado escritor, também veio passar um ano no Recife, a partir de 1962, a fim de completar o tempo para a aposentadoria e voltar para a Cidade Maravilhosa.

Por um acaso, meu amigo Pedro Clímaco me apresentou ao colega recém-chegado e logo lhe solicitei uma entrevista, que ocorreu em sua residência provisória, o Hotel Recife, onde estava com sua esposa.

Acompanhado do fotógrafo Diógenes Montenegro, fomos para o vetusto prédio da Rua Marquês do Recife, pegamos um velho elevador Otis ainda de portas pantográficas e iniciamos as fotos, com aquele personagem gordo.

Prosa fácil, focada mais na sua intelectualidade do que na medicina ou na atividade bancária. Momentos empolgantes viveu este repórter.

Liberei Diógenes para outras missões e ficamos bem à vontade. Ao iniciar, indaguei sobre qual assunto se referia o tema do seu mais importante livro, “A vida em flor de Dona Beja”, e ele me respondeu:

– Quem escreveu a história do romance foi a própria vida de Dona Beja, que na verdade se chamava Ana Jacinta de São José. U’a menina do sertão mineiro que ainda está viva na terra montanhesa, como nos dias de sua mocidade radiosa. Montou um palácio no Araxá e viveu no esplendor da carne quando ainda cheia de encantos renunciou prematuramente ao mundo, que dela fez a Rainha do Sertão, pela graça quase divina de sua beleza. Foi a mais importante prostituta de Minas Gerais.

Agripa Vasconcelos e seu livro sobre Dona Beja

No final, Dr. Agripa presenteou-me com uma poesia composta no Recife, “O moço que sonhou com o tempo de Nassau”, peça em que aproveitou o fato histórico do período holandês que nosso Pernambuco viveu, e me disse que tal peça era uma homenagem singela à nossa gente.

De pronto providenciei sua publicação, solicitando a Mauro Mota, diretor do Suplemento Cultural do Diário de Pernambuco.

Dr. Agrípa foi um ás dos romances históricos. No momento da entrevista já possuía o crédito de sete obras sobre esse estilo, narrando fatos ligados aos tempos antigos de Minas Gerais. Falamos sobre sua trajetória por bom tempo.

Mal sabia o jovem repórter que seis anos depois teríamos diante dos nossos olhos a sua mais badalada obra. A TV Manchete lançava Maitê Proença como personagem maior da teledramaturgia brasileira na adaptação de Wilson Aguiar Filho, dirigida por Herval Rossano.

Dona Beja – produzida a partir do romance A vida em flor de Dona Beja – foi a novela que superou todos os índices de audiência no Brasil e exterior.

Em nosso país foi apresentada durante o período de 31 de março a 11 de julho de 1986.

Um sucesso retumbante.

Maitê Proença, personagem central de “Dona Beja”

2 pensou em “A VIDA EM FLOR DE DONA BEJA

  1. O que seria da gente sem um passado poético e histórias de vida. Ainda bem que esta exceente novela foi produzida pela TV Manchete.

  2. É verdade, caro amigo Deco!

    Mas, parece que passaram-se os tempos das grandes novelas. Agora servem apenas como buchas e canhão, para preencher o tempo dos ouvintes e compensar publicidade.

    A respeito, estou lendo o livro de Dr. Agripa Vasconcelos: A Vida em Flor de D. Bêja – 461 páginas – de excelentes fatos históricos romanceados, aproveitando uma fase de gripe infernal, quando há dias não tenho gosto para nada.

    Nem para “aquilo”…kkk.

    Um abração do

    Carlos Eduardo.

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