XICO COM X, BIZERRA COM I

Adoro colocar letra em música bonita. A beleza da melodia estimula e inspira a criação de uma letra que se harmonize com a linha melódica da canção. Quando dos primórdios de nosso CANTIGAS DE SANFONEIROS, ainda na fase de definição de repertório para o CD em que reúno parcerias minhas com sanfoneiros, aí incluídos Gonzaga, Dominguinhos, Oswaldinho, Pedro Sertanejo, Gennaro, dentre outros, deparo-me com delicadíssima melodia que me fora enviada, para que eu colocasse letra, por uma musicista paraibana, sanfoneira talentosíssima, chamada Lucy Alves, que integrava o Grupo Clã Brasil e hoje é estrela do teleteatro da Globo.

MINHA OU DO FAUSTO?

Por obrigações ético-profissionais, e como sempre faço, liguei para a moça dizendo-lhe do meu intento em incluir sua música no meu disco. Foi quando fui por ela informado de que aquela melodia acabara de ser ‘letrada’ por Fausto Nilo, este, um dos maiores compositores/letristas de nossa MPB. Lembrei de João e Maria, dos mestres Sivuca (melodia) e Chico Buarque (letra), canção que originalmente foi gravada com uma outra letra, esta do também mestre Rui de Moraes e Silva. Aliás, quando Sivuca compôs a canção, Chico usava ainda calças curtas, talvez fraldas. O Chico adulto colocou letra sem saber que alguém já o fizera antes, e reclamou de Sivuca, a posteriori, por ter-lhe mandado, no dizer dele, uma ‘música usada’

A GRANDEZA DE UM POETA

Louve-se a curiosa ironia do destino, contida no título que tinha dado à valsa que ninguém vai escutar: CHUVA QUE NÃO CHOVEU (fui inverno, já não sou, sou chuva que não choveu …, assim começavam meus versos). A propósito, eu bem que poderia manter o que tinha escrito para aquela melodia, já não inédita, como Chico fizera com João e Maria. Preferi não fazê-lo. Até porque o Fausto, brilhante como sempre, já houvera feito isto e qualquer opção minha seria inferior a dele. Encontro o Poeta, conto-lhe o ocorrido e ele, em sua grandeza e humildade, apenas ri, minimizando o fato (na verdade aprendi com ele que não devemos valorizar aquilo que não nos agrada). Eu perdi uma parceria e a MPB saiu ganhando com a belíssima cantiga letrada por Fausto.

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5 pensou em “A VALSA QUE NUNCA FIZ

  1. Mesmo sem saber como é a versão do Nilo, com certeza discordo. A do mestre Xico Bizerra será sem dúvida melhor. Só não posso provar.

  2. O Nilo é um dos maiores letristas deste País, ao lado de ‘monstros’ como Paulo César Pinheiro, Chico Buarque (o maior deles), Aldir Blanc e outros. Honra-me (e agradeço) o comentário mas reafirmo que a MPB saiu ganhando com a preferência a ele dada na ‘letração’ daquela valsa que não fiz.

  3. Meu nobre Xico, seguramente uma pena. O MPB ganhou por pontos. Você falando do João e Maria de Chico, eu lembrei de Á flor da pele que tinha uma versão com Simone e outra com Chico e Milton, embora fosse dois ou três versos diferentes. Eu penso que Lucy se precipitou porque ela enviou a melodia, então, aparentemente, mandou para Fausto Nilo também. Concordo plenamente com você: um grande letrista. Mas, a letra não se perde. A chuva que não choveu vai inundar outra seara. Abraços

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